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21 DEZ 2020
REPORTAGEM: "Da gesta dos mares frios ao calor da ceia de Natal"
Por Jornal Abarca

Aproxima-se o Natal. Para quase todos nós vai ser difícil dissociá-lo das memórias e do bacalhau cozido com couves portuguesas, batatas, um dente de alho e um fio de azeite. Uma das tradições gastronómicas a que os portugueses mais recorrem nesta quadra, devia ser proibido ser assim tão sombria e distante.

Natal é também a época para relembrar a saga nacional da pesca do bacalhau na Groenlândia e na Terra Nova - que se acrescentou a outra, a dos Descobrimentos - capturando-o em mares remotos, cinzentos, de brilho metálico e frio, salgando-o e curando-o nas nossas salinas solarengas, e depois guardando-o nos porões escuros dos barcos da aventura, onde era durante meses o sustento dos nossos navegadores e da viagem. Talvez devido a esse legado histórico, os portugueses são hoje, e per capita, quem maior quantidade de postas de bacalhau consome anualmente no mundo. São 22 quilos de bacalhau para cada alma lusa, ou seja 20 por cento dos bacalhaus pescados no planeta para os 0,12 por cento que somos, dados de 2017, e de acordo com a Associação de Industriais do Bacalhau. (...)

António Luís, filho de Ílhavo e de pescador de bacalhau, tem quase 90 anos, e ainda hoje se recorda das três temporadas que passou, na meada da década de 1960, nas campanhas do bacalhau pela Terra Nova e, quando aí faltava, na Groenlândia. Foram três anos intensos que nunca esquecerá, mas podiam ter sido mais. Ílhavo era terra onde a pesca de bacalhau tinha enorme história e tradição e, segundo o Jornal do Pescador, na campanha de 1960, só do seu concelho, eram 1209 homens, 22 por cento da tripulação da frota bacalhoeira de todo o país (Figueira da Foz, Vila do Conde, Olhão e Nazaré foram os outros concelhos com maior contributo, mas com efetivos muito distantes dos de Ílhavo). (...)

Para concretizar este desígnio do mar, Salazar contou com outros fatores que convergiam no mesmo propósito de aventura em águas tão prometedoras como hostis. Por extraordinárias vicissitudes históricas, e entre proibições e obrigações impostas pela Igreja Católica, Portugal chegou a ver um terço dos dias do ano (como os 40 dias da Quaresma) sujeitos à abstinência religiosa do consumo de qualquer tipo de carne; por outro lado, o país chegou a importar mais de 80 por cento do “fiel amigo” que consumia, e era preciso aumentar a capacidade de autoaprovisionamento do peixe seco e salgado para equilibrar a balança comercial do negócio; e, para completar a triangulação, os portugueses tinham (e têm…) uma estranha fixação gastronómica no Gadus morhua, que parece também fazer parte da sua identidade. Era o conduto que acalmava a fome dos que pouco tinham, e a iguaria em que o alquimiavam quando subia ao banquete de nobres e fidalgos. Era muito na mesa dos portugueses, pobres ou ricos. (...)

Poderá ler a reportagem completa na edição em papel do Jornal Abarca, disponível nos postos de venda habituais.

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