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08 FEV 2021
OPINIÃO | "Inverno, Invernão", por Armando Fernandes
Por Jornal Abarca

Não há fome que não dê em fartura afiança o rifoneiro. O provérbio aplica-se que nem luva de pelica em mão de pianista a este Inverno que só finda nos finais de Março. Amantes e amigos do sol na eira e chuva no nabal tendemos a esquecer as vinculações das sazões ficando espantados quando a sazão sai fora da casca porque trouxe lembranças de tempos recuados a clamarem prudência no exorcismo das amplitudes térmicas atribuindo-as de imediato a todos e mais algumas malfeitorias ao Homem predador, insaciável e egoísta no tocante à defesa do ambiente.

É verdade que o Homem é tudo isso, é verdade ele delapidar recursos, no entanto também é verdade (a História) enuncia catástrofes, desastres naturais e epidemias para as quais não mexeu o dedo mínimo (glaciações, expansão dos desertos, desaparecimento de rios entre outras calamidades) para as criar, antes pelo contrário, tem desenvolvido esforços na intenção de as erradicar, pelo menos domesticar.

O genial estratego militar Aníbal Barca atravessou os Alpes carregados de neve com os seus elefantes provocando a admiração do Mundo, proezas semelhantes dão corpo às cronologias, provando aos fundamentalistas que a Natureza é muito excêntrica, devendo-nos não a maltratarmos, defendendo-a com conta, peso e medida, porque tudo o que é demais é moléstia.

Outro estratego militar, o também genial e glutão ambicioso Napoleão minimizou o poderio do general Inverno, sem canhões e espingardas desbaratou os exércitos do Corso porque possuía neve, vento frio e cortante capaz de tornar os casacões e restante vestuário pesado tão fino quanto uma blusa de seda decotada e sem mangas. O inverno russo agilizou o naufrágio das pretensões do prisioneiro retido na ilha de Santa Helena.

No ano em curso, ainda menino e moço, já impôs a lembrança de Invernos invernões, de comboios nem para a frente nem para trás imobilizados nas linhas de caminho-de-ferro, dadas as avalanches de neve, de passeatas no gelo provocados em rios, ribeiros e lagos, das mãos doridas e dormentes a purgarem dada a virulência das frieiras. Os mais novos (ainda bem) não conhecem os efeitos das frieiras, não sabem o significado de escalda-pés, menos ainda de ceroulas. Pois bem, o invernão do mês de Janeiro se deleitou os praticantes dos desportos na neve e no gelo, se originou milhões de imagens, incluindo as do jet-set a esquiar, também apostou na desordem rodoviária e ferroviária, no aumento de sofrimento dos sem-abrigo, dos desempregados, para além da proliferação de catarros rouquejados. 

Nas terras altas do Norte e de Trás-os-Montes para lá dos serões à volta da lareira, para lá das suecadas noite fora, para lá das gozadas provas de fumeiro e outros elementos porcinos, dedicava-se tempo e atenção aos animais domésticos, gados e vigiavam-se as imediações das casas, currais e pelheiras, pois os lobos uivavam a concederem razão a Aquilino Ribeiro. Leiam o livro caríssimos leitores deste jornal.

Será um Inverno à antiga, como se costuma apelidar. Comida de untar a barbela, vinho de qualidade, calor a preceito, cartas para jogar, bons livros para ler e o Inverno passa a Invernão!

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