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14 ABR 2021
OPINIÃO | "Centenário do PCP – as raízes do Partido em Alcanena", por Gabriel Feitor
Por Jornal Abarca

Em 1913 as instituições republicanas reconheceram oficialmente a Associação de Classe dos Curtidores de Sola e Artes Correlativas de Alcanena. A associação fora fundada dois anos antes, numa iniciativa de organização da classe operária de Alcanena, cuja consciência de reivindicação remonta a 1895, ano da sua primeira greve, também a primeira do concelho de Torres Novas.

No seio da Associação começaram a esboçar-se, principalmente, duas tendências: a republicano-socialista, afecta aos trabalhadores militantes no Partido Republicano Português e demais socialistas independentes, e a sindicalista revolucionária, influenciada pela Carta de Amiens, e transformada, com o passar do tempo, depois da fundação da Confederação Geral do Trabalho (CGT), em anarcossindicalista. Esta era representada por duas figuras principais: António Agostinho Matafome e António Rodrigues Dias.

Ambos operários de curtumes envolvidos na luta pela conquista das oito horas de trabalho em 1919, aderem, nesse ano, à Federação Maximalista Portuguesa (FMP), embrião do Partido Comunista Português (PCP), partidários dos bolcheviques, da “revolução levada ao máximo”. Matafome, originário do anarquismo – aparece entre os financiadores da revista A Sementeira em 1918 –, fora dirigente da Associação de Classe e delegado ao II Congresso Operário Nacional, que aconteceu Coimbra, também em 1919, momento fundador da CGT. Sobre Rodrigues Dias ainda pouco se sabe, presumindo tratar-se de um operário natural do lugar do Peral, que faleceu em 1923.

Durante um ano, António Agostinho Matafome dissertou sobre a Revolução Russa nas páginas d’A Bandeira Vermelha, órgão da FMP, um conjunto de artigos em jeito de ensaio muito curioso, demonstrativo já de uma certa cultura, atendendo ao meio social em que se inseria, mas, sobretudo, da amálgama e equívocos teóricos e ideológicos entre o anarquismo e o marxismo que pautaram os primeiros anos da história do PCP. Aliás, o tributo que Matafome faz às figuras de Ferrer e Lenine, registando dois filhos com esses nomes, é prova disso mesmo.

A assembleia magna do PCP decorreu na Associação dos Empregados de Escritório de Lisboa, no dia 6 de Março de 1921. No primeiro congresso partidário, em 1923, nenhum dos nomes que constam nas fontes parece indicar a participação de qualquer alcanenense. No entanto, no ano seguinte, por ocasião de um comício contra a carestia da vida e a ditadura militar ocorrido em Torres Novas, sabe-se que esteve presente uma delegação da comuna de Alcanena, estrutura local do PCP.

Não se conhecem os nomes dos seus militantes, porém, entre 1925 e 1926, António Agostinho Matafome aparece como administrador do concelho. Num comunicado publicado no jornal distrital do PRP, O Debate, em defesa da sua posição num conflito ocorrido com um vendedor ambulante, afirma ser militante daquele partido, ainda que faça, curiosamente, uma referência a Ferrer.

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