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23 SET 2021
EDITORIAL | "Manicómio Redondo", por Margarida Trincão
Por Jornal Abarca

As férias acabaram, o ano lectivo está à porta e quase num ciclo contra-natura o dia-a-dia da maioria dos cidadãos entra no seu ritmo normal para mais trezentos e muitos dias de atarefamentos.

É interessante que a vida “recomeça” quando a natureza caminha para o seu declínio anual. Meses de adormecimento e gestação para um novo ciclo de rejuvenescimento, quando as primeiras folhas recomeçam timidamente a cobrir os troncos despidos. Era por essa época que algumas culturas celebravam os seus rituais de fertilidade. Em tempos idos, coincidia também com o início de um novo ano. Não é esse o nosso calendário e setembro transformou-se num mês de recomeços.

2021 é ano de eleições autárquicas. Altura em que os eleitores são chamados a cumprir um dos seus deveres cívicos e que, com maior ou menor convicção, elegem os seus governantes do poder local. Um poder que é legitimado pelo voto e que, por esse simples facto, os eleitos têm a obrigação de prestar contas à população. Tudo isto está mais do que dito e redito, no entanto, atrevo-me a repetir que a frequência com que é afirmado é proporcional à com que é esquecido. Vamos ver o que muda, ou o que permanece inalterado. A 26 de setembro saberemos.

A pandemia por cá continua e, mesmo sem querer, começamos a habituarmo-nos a ela. Máscara na cara, cumprimentamo-nos com gestos até há pouco tempo inusitados e vamo-nos esquecendo do conforto de um abraço caloroso… Talvez um dia o possamos voltar a praticar, se ainda soubermos como se faz. Talvez um dia consigamos perceber que todos somos iguais na certeza que o nascimento e a morte fazem parte do mesmo ciclo. Talvez um dia consigamos perceber que o sofrimento, a humilhação, a tortura é igualmente dolorosa para qualquer ser vivo. E que, nós os humanos, animais pensantes, praticamos o sofrimento alheio e esquecemo-lo, como se uns fossem feitos de palha e a outros lhes corresse sangue nas veias. Sim falo do Afeganistão e em todos os “afeganistãos” espalhados pelo mundo. Não há só um, há muitos.

O cartoonista Quino criou a sua Mafaldinha. A menina rebelde que enfaixava o globo de ligaduras porque o “mundo estava doente” e questionava Deus por ter patenteado um “manicómio redondo”. Sim o mundo está, ou sempre esteve doente, e os outros, nós todos, assobiamos para o lado, enquanto as dores não chegam perto.

Nesta edição de abarca vários cronistas, de uma ou de outra forma, falam do terror de quem tenta sobreviver no meio do enorme caos. Enquanto directora tenho um enorme orgulho de poder contar com a sua colaboração e nunca é demais expressar o meu agradecimento a todos pelo seu inestimável contributo.

Poderia acabar por aqui, mas abarca tem outros temas que, por certo, despertarão o interesse dos nossos leitores, o nosso alvo. Cronistas e redactores é por eles e para eles que existimos.

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