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20 ABR 2022
OPINIÃO | "Finitude", por Susana Guerreiro
Por Jornal Abarca

Devolveria um minuto por todos os segundos que o vento a transportou para lugares que não escolheu. Por lá permaneceu, tão mais que o expectável.

O seu silêncio segredou-lhe o amor próprio, abraço-a e acompanhou-a até à colina mais alta da sua existência. Lá transformou gritos de angústia em dúvidas irrefutáveis.

Seria poético – e por isso triste - dizer que não mudaria uma vírgula de uma história menor que alguém tentou escrever e conseguiu publicar. Há sempre alguém que adora caminhos fáceis e acredita. Isso já não lhe faz mossa.

Eu acho-a especial, forte até.

Consciente da finitude humana, experimenta viver um número antes da morte só para recuperar aqueles longos segundos que o vento lhe roubou tão abruptamente.

Não gosta de deixar as coisas a meio e sente que o prazo está a terminar. É urgente recuperar os construtores da sua essência, ganhar coragem e derrubar barreiras sociais, agradecer, abraçar e beijar. Há sempre a possibilidade de não o conseguir, ou por timidez ou porque o outro não autoriza essa proximidade. Nesse caso, não será um falhanço, mas uma gaveta arrumada.

A tarefa do obrigada é desgastante e ainda pode percorrer todas as estações do ano. No intervalo, fecha a dita porta e regressa à sua, onde a ordem para entrar ainda lhe pertence.

Mesmo que a força lhe falte, é feliz com actos simples de amor, como preparar uma refeição quente e estender os lençóis brancos e perfumados a secar à vontade do vento.

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