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20 JUN 2022
OPINIÃO | "Viagens e Aventuras", por Maria João Carvalho
Por Jornal Abarca

"Viagens e Aventuras" é o título do livro que li e sou obrigada a reler muitas vezes porque é complicado. Quem diria?

Pequenino em tamanho, manuscrito em letra redondinha, profusamente ilustrado e até encadernado pelo autor, composto por vários contos sobre piratas e navios à vela, contém explicações pormenorizadas que mostram quanto o autor conhecia sobre a matéria. E é aí que se encontra a complicação: um rapazinho de 13 anos, apaixonado por veleiros e imaginando aventuras de piratas em mares distantes.

Já com seis anos declarara no jornal da escola que queria ir para a Marinha, o sonho de ir pelo mar fora manteve-se toda a vida.

Mas quem disse que os sonhos são para viver numa vida?

O menino cresceu, depois de extensas e serenas conversações com o pai decidiu que seria cirurgião e deveria ter olvidado esse sonho antigo de mares e veleiros. Mas paralelamente construiu veleiros em miniatura, navegou pelos mares infindáveis do seu sonho, mesclava os diálogos com termos náuticos e nunca foi para a Marinha. Também nunca embarcou num grande veleiro ou sequer viajou por mar. Visitou grandes veleiros atracados nas docas do Tejo com os olhos brilhantes de emoção, a emoção de quem considerava os veleiros as maiores construções do Homem. Alguém lhe terá dito que eram comparáveis a catedrais, mas ele respondeu "as catedrais não se movem". Com pau, corda e pano, o Homem construiu catedrais que permitiram cortar os mares e até encontrar novos mundos.

Sorria quando se falava em escritos, em escritores e em poetas, e a gente pensava que os depreciava.

Li agora o seu livro. O livro que escreveu e ilustrou com quase todos os veleiros, pequenos e grandes, que povoavam o Tejo em 1934.

Não lhe chegou uma vida para o sonho.

Estará algures, seguramente ao leme dum grande veleiro, sulcando o mar sem fim da eternidade.

 

 

Fado do Campo Grande

A minha velha casa,
por mais que eu sofra e ande,
é sempre um golpe de asa,
varrendo um Campo Grande.

Aqui no meu pais,
por mais que a minha ausência doa,
é que eu sei que a raiz de mim
está em Lisboa.

A minha velha casa
resiste no meu corpo,
e arde como brasa
dum corpo nunca morto.

À minha velha casa
eu regresso à procura
das origens da ternura,
onde o meu ser perdura

Ary dos Santos (1936 - 1984)

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