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01 OCT 2019
Alcanena - O Futuro como os Estores: Negro
Por Jornal Abarca

Dois anos volvidos sobre a reportagem “A Terra Para Onde As Aves Já Não Voam”, os problemas ambientais voltam a assolar Alcanena. Os protestos têm subido de tom e a troca de acusações entre as entidades responsáveis deixa a população ainda mais confusa.

Elisa Alves e Maria Ferreira voltam a falar com o abarca sobre o problema. Em 2017 falaram como membros do Movimento pela Saúde de Alcanena (MSA), um movimento de cidadãos que lutava contra o problema dos maus-cheiros. Maria explica que o MSA não tem tido iniciativas “porque foram feitas promessas, por isso aguardámos”.

A verdade é que nunca o ambiente esteve tão grave como agora em Alcanena: “Não se pode estar nas casas, aqui no escritório [situado no centro da vila], cheira muito mal, a podre”, conta Maria. As duas amigas costumam treinar de manhã no Estádio Municipal e queixamse que “não se pode lá estar”. Elisa conta que “uma aluna minha a meio do treino desistiu e foi-se embora”.

Os cheiros são constantes e muito intensos, mas intensificam-se à noite, tornando insuportável a vida em Alcanena. “Aqui não se vive, sobrevive-se”, diz Elisa. “Há pessoas a tomar medicação porque têm problemas de respiração, dores de cabeça, nós na garganta...”.

As duas acreditam que Alcanena vai sentir a curto prazo o preço desta situação também na área demográfica de uma vila, só por si, com dificuldade de captar habitantes: “A curto prazo vou sair daqui, vou viver para outro lado”, diz Maria. “Todos os dias quando vou deitar a minha filha tenho os estores pretos”, queixa-se.

Essa é uma das imagens que mais tem invadido as redes sociais: os estores em Alcanena acordam pretos, resultado das partículas que invadem o céu da vila.

Mas não só em Alcanena se sentem os cheiros. Nas terras à volta, como as aldeias mais próximas Gouxaria e Casais Romeiros até às localidades mais afastadas como Amiais de Baixo ou Serra de Santo António, o odor também se faz sentir. Elisa, instrutora de fitness, dá aulas na Serra de Santo António e lá já se queixaram: “Se chega cá não sei como conseguem viver em Alcanena”.

A principal preocupação que Elisa e Maria demonstram ao longo da conversa prende-se com a saúde pública e reflecte, também, o desagrado da população. A questão que muitos fazem é difícil de responder: que futuro há numa terra onde não se consegue respirar?
 
“Casa onde não há pão…”
…”todos ralham e ninguém tem razão”! Diz o ditado popular e parece assentar perfeitamente na troca de galhardetes entre as entidades responsáveis. Parece haver mais esforço para se encontrarem culpados do que propriamente para encontrar soluções.

Elisa Alves acredita que “a Câmara Municipal não terá capacidade para gerir a ETAR, foram prometidas obras na ETAR para conseguirem tratar os resíduos mas as coisas só se agravaram”. A convicção de Elisa resulta de uma conversa que garante ter acontecido com o vereador da autarquia Hugo Santarém: “A culpa é da ETAR que está a receber mais resíduos do que podia suportar e não pode ser”, terá dito o autarca a Elisa.

Na tomada de posse para o seu terceiro mandato, em Outubro de 2017, Fernanda Asseiceira, presidente da Câmara Municipal, acusou o MSA de politizar o tema da poluição, assumiu o pelouro do ambiente e anunciou a criação de duas entidades para auxiliarem na resolução do tema, o Conselho Estratégico Municipal e um Observatório Ambiental. Dois anos volvidos, a situação apenas piorou.

A 17 de Setembro o grupo Cidadãos por Alcanena, força derrotada nas últimas autárquicas, pediu um esclarecimento à APIC (Associação Portuguesa de Industriais de Curtumes) tendo em consideração que na reunião de Câmara do dia anterior a vice-presidente Maria João Gomez terá “identificado os industriais de curtumes como os principais responsáveis pela criminosa situação ambiental que se passa em Alcanena”. A APIC respondeu que “não há mais caudais nem efluentes com características poluentes diferentes daquelas que sempre foram recepcionadas na ETAR” acusando a incapacidade da autarquia na gestão da ETAR: “Há sim uma incapacidade de gestão da ETAR e do Sistema para o tratamento dos efluentes da indústria de curtumes”. A autarquia já comunicou que está a investigar as origens dos maus-cheiros e prometeu uma série de medidas para tentar acabar com o problema.

Recorde-se que em Julho a ETAR deixou de ser gerida pela AUSTRA, organização que reunia os industriais, e passou para as mãos da Aquanena, empresa municipal, que é liderada por Fernanda Asseiceira. A partir daí os maus-odores invadiram novamente o concelho de forma agressiva.
 
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