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13 ABR 2020
Dra. Maria dos Anjos Esperança: "Estamos numa verdadeira guerra"
Por Jornal Abarca
Foto: Facebook Dra. Maria dos Anjos Esperança
Foto: Facebook Dra. Maria dos Anjos Esperança

A Coordenadora da Unidade de Saúde Pública no Médio Tejo faz um balanço positivo da evolução do vírus na região. Ainda assim, não há margem para baixar as defesas: a guerra está para durar. 

Qual a avaliação da situação no médio Tejo e quais as perspectivas para Abril?
Estamos dentro dos parâmetros nacionais e para o mês de Abril pensamos manter-nos abaixo do que estava previsto até para o país, mantendo uma curva mais aplanada e não com uma subida repentina.

Isso significa que a partir de Abril a curva poderá descer?
Penso que a curva será prolongada no tempo. Talvez em Maio, se tudo correr dentro do previsto, começaremos a descer. Evita-se um pico muito alto que teria repercussões na saúde das pessoas. Assim, os casos graves acabam por se prolongar no tempo mas serão melhor controlados.

Está a ser tomada alguma medida excepcional a nível da região para conter o surto?
Seguimos as normas no Ministério da Saúde e da Direcção-Geral da Saúde (DGS), e aqui no ACES Médio Tejo todos fazemos um trabalho de divulgação de informações criadas por nós e da DGS por todos os parceiros que temos, onde se incluem Câmaras Municipais, Juntas de Freguesias, lares, igrejas, entre outros.

As unidades hospitalares da região estão preparadas para lidar com esta pandemia?
Penso que estão bem preparados, naturalmente com as dificuldades inerentes a um consumo muito maior de consultas. No Centro Hospitalar do Médio Tejo ficou o Hospital de Abrantes com os casos de Covid e foram entregues a Tomar e Torres Novas os outros serviços de forma a que fosse possível dar uma resposta muito maior.

Há recursos humanos e materiais suficientes?
Neste momento os recursos da saúde serão todos necessários e serão sempre poucos, porque os profissionais de saúde também adoecem, infelizmente. Mas serão sempre adaptados às necessidades para que seja possível dar resposta.

De que forma se alterou a sua vida desde o aparecimento da Covid-19?
Da mesma forma que se alterou a de todas as autoridades de saúde. Tento cumprir as regras do afastamento social e cumpro-as dentro do serviço. Entro muito cedo e saio sempre muito tarde e dedico-me, com os meus colegas, quase exclusivamente a esta pandemia. Estamos todos muito unidos na função de ajudar as pessoas. E temos uma muito boa coordenação de trabalho com as autarquias, corpos de bombeiros, GNR, PSP, com todas as forças do ACES Médio Tejo, protecções civis. Falta-nos um bocado de apoio da parte central, mas compreendemos que têm muitos locais para dar apoio. E também temos tido apoio das populações que com o seu comportamento ajudam-nos a fazer o nosso trabalho.

Portugal tem sido muito elogiado pela forma como tem controlado a crise. Aprendemos com o que aconteceu em Itália e Espanha?
É justo concluirmos isso. Infelizmente com o mal dos outros aprendemos como nos proteger melhor. Mas não significa que não vamos passar por situações aflitivas, isso pode acontecer. Temos de continuar a tomar medidas de força porque isto é uma verdadeira guerra e temos de conseguir vencê-la perdendo o mínimo de guerreiros.

As medidas do Estado de Emergência são suficientes ou seria importante reforçá-las?
O fecho de fronteiras feito pela Espanha também nos vai proteger mais. As medidas tomadas são muito boas, a única coisa que me preocupa é que há pessoas que ainda não entenderam que esta pode ser uma situação muito, muito, muito grave e que pode levar a uma mortalidade muito grande. É isso que me preocupa, porque se as pessoas cumprirem o que as autoridades dizem nós conseguimos proteger-nos.

Sente que as pessoas têm estado a cumprir?
Sei que nos meios mais pequenos ainda há muito o costume de as pessoas irem para o café, fecharem a porta e ficarem lá dentro. E aí a polícia tem feito muitas intervenções, porque isso é como não se deve estar. Compreendo que as pessoas se queiram juntar, os portugueses são um povo afectivo e isso ainda acontece nos meios mais pequenos, mas a polícia tem feito um bom trabalho. Se for preciso acho muito bem que se proíba de andar na rua, excepto as pessoas que precisam mesmo de ir trabalhar.

Qual é a idade média dos infectados na região?
Estamos agora a fazer esse registo, porque até agora os dados não eram muito alargados, e podemos apontar para a casa dos 50 a 60 anos.

Há cadeias de transmissão activas na região?
Foi possível identificarmos cadeias de transmissão na região, ligadas a casos vindos do Porto, por causa de um evento desportivo que houve na Maia. Também há uns casos importados de uma viagem à Argentina, e outra cadeia com uma ligação a Ovar, por exemplo. Mas as cadeias de transmissão foram identificadas e controladas. Muitos dos nossos casos nem levaram a internamento, ficaram em casa a fazer recuperação. Como autoridade de saúde pública, o doente em si não é a nossa matéria de trabalho, mas sim os contactos do doente para tentarmos envolver aquelas pessoas numa rede e segurarmos o contágio mantendo essas pessoas em casa.

Quer deixar alguma mensagem aos nossos leitores?
Faço um apelo para que as pessoas cumpram as regras de isolamento social, de etiqueta respiratória e de higiene, sobretudo lavarem as mãos. Nunca é demais repetir esta mensagem.

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