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04 MAI 2021
REPORTAGEM | "O Centro da Liberdade"
Por Jornal Abarca
A 15 de Maio cumprem-se 115 anos do nascimento de Humberto Delgado. Em Torres Novas continua a evocar-se a memória do General Sem Medo e, com isso, preservar a memória dos resistentes torrejanos e da liberdade.
 
A Casa Memorial Humberto Delgado, no Boquilobo (Torres Novas), terra natal do General Sem Medo, irá ser convertida num centro de estudos após obras de remodelação.
 
Jorge Salgado Simões, chefe da Divisão de Educação, Desporto e Cultura da autarquia torrejana, explica que “o edifício estava fechado e já há algum tempo que havia o interesse de fazer algo. Em 2019 concorremos à medida “Renovação de Aldeias”, inserida no PDR 20/20, que se dedica exclusivamente a apoiar intervenções em elementos patrimoniais inseridos em aglomerados rurais”. Aproveitando este apoio, há a “expectativa de abrir até ao final do ano” o Centro de Estudos Humberto Delgado (CHUDE).
 
“A intervenção centra-se na recuperação total do conjunto edificado”, explica Jorge Salgado Simões. Além da Casa Berço, o segundo edifício “terá uma recepção com biblioteca temática e na outra sala serão apresentadas exposições temporárias”. Assim, “a modificação é mais ao nível dos conteúdos, com suportes audiovisuais e interactividade, com vertente informativa mas também educativa”, explica.
 
Elvira Sequeira, vereadora da cultura da Câmara Municipal de Torres Novas, revela que era desejo da autarquia “fazer algo diferente que não fosse apenas uma Casa Memorial aberta ao público, mas que tivesse outro tipo de dinâmica para atrair movimento e desenvolvimento de conteúdos que pudesse dar-lhe outro rumo”.
 
Essa valorização passa, também, pelo trabalho a realizar com vários segmentos de públicos: “A escola, para participar na construção de programas complementares à oferta que é feita dentro das salas de aulas; investigadores e cientistas; e há, obviamente, a própria população local. Neste caso, tem de existir uma mediação pensada de um modo participativo na perspectiva de trazer outras conversas sobre o que é a liberdade”, sustenta Margarida Freire Moleiro, Diretora do Museu Municipal Carlos Reis. “São três segmentos muito relevantes. Também há outro tipo de público, que passa pelo turismo, mas o nosso foco são aqueles três”.
 
Para Jorge Salgado Simões nasce aqui uma oportunidade diferente para “contar às pessoas que numa terra tão pequena como esta pode nascer alguém com um papel tão preponderante no nosso país e, neste caso, com projecção internacional tão relevante. Isso sensibiliza-me”.
 
O passado como janela do futuro
Margarida Freire Moleiro explica o trabalho a desenvolver no CHUDE: “Quisemos imaginar um trabalho de futuro que considerasse um ponto de partida mas que tivesse uma continuidade. Há uma função basilar, do estudo e da salvaguarda do património, que queremos fazer na lógica de devolver a memória aos seus próprios conterrâneos mas também fazer pontes deste tema com o resto do país e do mundo. E não apenas com o que se relaciona com o tempo de vida de Humberto Delgado mas também com o nosso tempo de vida”.
 
Gabriel de Oliveira Feitor, historiador afecto ao projecto, completa: “Através da figura de Humberto Delgado quisemos trazer um ponto de reflexão do presente e do futuro, até porque hoje temos uma geração a quem o 25 de Abril já diz pouco, esses marcos de memória começam a desvanecer-se, e isso conta para a aceitação de alguns fenómenos políticos que estamos a assistir hoje”, alerta.
 
É inserida nessa lógica que surge a proposta de uma campanha que obriga a reflectir o presente através da memória: “Pegámos na sonoridade do acrónimo CHUDE e a palavra “should” e daí surgiram as questões “Should I resist?” (Devo resistir?), “Should I protest?” (Devo protestar?), “Should I talk?” (Devo falar?), e a partir dessas questões tentámos trazer as discussões que importam nos dias de hoje”.
 
Lembrar os resistentes torrejanos
Margarida Freire Moleiro ressalva que “o que está aqui em causa não é apenas Humberto Delgado. Parte dele como figura central que é de Torres Novas e é catapultada para um panorama nacional e internacional, mas a par disso temos a possibilidade de falar de muitos outros torrejanos e torrejanas que se bateram pela liberdade”.
 
Jorge Salgado Simões assinala que os “resistentes do concelho terão aqui destaque”. Margarida explica que “o centro não só não se esgota na figura de Humberto Delgado, como é uma possibilidade de abertura a outras figuras, como Maria Lamas”.
 
Além conhecida activista, “há o João Espanhol, o Baracho, o Dr. Amora, o António Augusto Louro, há aqui vários sectores representados”, diz Gabriel de Oliveira Feitor. A vereadora Elvira Sequeira completa: “Temos figuras que não são tão conhecidas fora da terra”, na dimensão de Delgado, “mas que têm um forte relevo em Torres Novas”.
 
A primeira exposição temporária do CHUDE será, assim, dedicada aos resistentes do concelho, e o primeiro número da produção editorial afecta ao Centro intitular-se-á, precisamente, “os torrejanos da liberdade”.
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