Home »
22 MAI 2023
OPINIÃO | "O Movimento Estudantil em Abrantes: um marco para a História (I)", por Estêvão de Moura
Por Jornal Abarca

Esta crónica está centrada numa das provas mais fortes de que os “historiadores” abrantinos não fizeram de forma adequada o “trabalho de casa” para assegurar que as futuras gerações abrantinas tenham acesso aos eventos mais relevantes que moldaram o ethos da cidade é o que se passa com o “MSERC-Movimento de Solidariedade Estudantil e Renovação Cultural”.

Este movimento estudantil foi um acontecimento marcante na Abrantes dos anos 60 – sobre o qual raramente se fala ou escreve e que poucos dos abrantinos sedentários conhecem. Esta situação é tanto mais de estranhar quanto, vistas bem as coisas, este foi um episódio que, ao tempo, apenas teve paralelo em cidades como Paris (o Maio de 68) ou Coimbra (a crise académica de 1969).

Que numa cidade de província, meio desconhecida para os portugueses; onde, mesmo para a maioria dos locais, pouca coisa aconteceria (o icónico e disruptivo: “Em Abrantes tudo como dantes,…”) tenha ocorrido em 1969-1970 um movimento estudantil com características únicas e diferenciadas de tudo o que até então acontecera na Cidade é uma coisa que, não fora a mediocridade ou a muita ignorância, devia ser celebrada e elegida à categoria de evento histórico maior.

E a haver esse conhecimento até se deveria celebrar a data como um “dia do estudante” ou algo análogo onde fosse destacado o papel da juventude na comunidade ou o que fosse tido por adequado ao marco histórico actual.

Mas nada disso vai acontecer. Por que, nem os abrantinos mais informados com quem falei se lembravam de que esse Movimento tinha tido lugar. O facto de um dos acontecimentos mais originais e marcante ocorrido em Abrantes, antes de 1974, ser totalmente desconhecido dos abrantinos e ser desprezado pelos “historiadores” do lugar é mais um daqueles mistérios em que se transformou a História escrita da cidade.

Por esta altura algum dos meus leitores já estará a pensar: “- Mas, afinal, se ninguém sabe que esse Movimento Estudantil teve lugar,… se os historiadores, como é dito na peça, nem o reconhecem como importante,… será que o dito Movimento é assim tão importante como o autor do texto quer insinuar?”.

Será isso, precisamente, que irei demonstrar: (I) que na Abrantes dos anos 70 aconteciam coisas; (II) que o que acontecia tinha autonomia face aos movimentos políticos dominantes (“situação” e “oposição”); e (III) que esses acontecimentos foram determinantes na projecção do futuro em Abrantes.

Escrever sobre o movimento estudantil dos anos 70 era algo indispensável neste conjunto de crónicas que vou escrever sobre o que se passava em Abrantes ao tempo. Para o fazer faltavam-me, todavia, elementos cruciais, como era o caso do Manifesto, que circulou entre nós os estudantes e alguns professores e foi lido em muitas aulas nos diferentes estabelecimentos de ensino.

E é aí que, num clique, decidi telefonar ao António Montalvo, que foi quem redigiu o documento original do “manifesto” e perguntar-lhe se ele ainda se lembrava do movimento e do documento que tinha redigido e proposto para discussão. E a resposta que obtive excedeu todas as minhas expectativas: o António respondeu que não só se lembrava como até tinha com ele o manifesto! E enviou-mo pelo correio.

Para já, ainda que volte a falar dele e do papel que desempenhou em todo este processo, só tenho de agradecer ao António Montalvo o ter-me proporcionado esse momento único que foi o de volvidos 50 anos voltar a ter nas mãos um dos marcos da nossa juventude. E tornar possível (re)colocar, na História de Abrantes, que é onde deve estar, esse acontecimento, sem paralelo, de que fomos protagonistas.

(0) Comentários
Escrever um Comentário
Nome (*)

Email (*) (não será divulgado)

Website

Comentário

Verificação
Autorizo que este comentário seja publicado



Comentários

PUB
crónicas remando
PUB
CONSULTAS ONLINE
Interessa-se pela política local?
Sim
Não
© 2011 Jornal Abarca , todos os direitos reservados | Mapa do site | Quem Somos | Estatuto Editorial | Editora | Ficha Técnica | Desenvolvimento e Design