A globalização não é coisa nova para os portugueses. São imensos os exemplos de multiculturalidade que influenciaram as nossas raízes ao longo dos séculos. Hoje querem servir o resultado dessas misturas como “portugalidade”, como se isso fosse algo cristalino nunca afectado por outros cunhos. A verdade é que somos o mundo que nos habita, inclusive das comunidades imigrantes que pisaram o nosso solo.
Esta é uma das áreas com maior influência estrangeira na cultura nacional, desde a criação de novos pratos à riqueza das inúmeras especiarias que utilizamos nas nossas cozinhas.
A canja tem origem na Índia - a palavra malaia “kanji” refere-se a um caldo quente e salgado de água e arroz, servido originalmente como bebida para doentes, especialmente de cólera. Em 1563, o médico português Garcia de Orta, que vivia na Índia, introduziu a “kanji” na Europa através da sua obra “Colóquios dos Simples e Drogas da Índia”. Os portugueses acrescentaram a carne de galinha ao caldo, criando a canja que conhecemos.
Também do oriente veio o Sushi. A popularização em Portugal começa com a abertura em 1985 do primeiro restaurante em Lisboa, “Kamikaze”, pela mão do senhor Chimoto, um imigrante japonês, como conta Cristina Cordeiro no livro “Arigato 10 anos de sushi em Portugal”. Desde então, o sushi passou de uma novidade para um prato comum e muito apreciado em Portugal.
Mais famosa é a história da criação da alheira: durante a Inquisição muitos judeus foram forçados a converter-se ao cristianismo ou a fugir. Como os judeus não comiam carne de porco, eram facilmente identificáveis porque os fumos dos enchidos de porco eram uma presença constante nas casas da época. Para evitar suspeitas, criaram um enchido com carnes de aves, coelho ou vitela, envoltas numa massa de pão para dar consistência. A receita, que começou como um disfarce, rapidamente se popularizou entre os cristãos.
Mais recente é o fenómeno do kebab, ligado à emigração turca para o centro e oeste europeu, sobretudo desde o século passado. Com origem no Oriente Médio, kebab significa "carne assada", e evoluiu de espetadas de guerra para um lanche rápido e popular, servido em pão pita com salada e molhos. Hoje em dia é um dos principais aliados dos fins de noite dos jovens em Portugal!
Outra aliada cada vez mais popular entre as noitadas dos jovens portugueses é a Caipirinha. A sua origem é de validação duvidosa, ainda que seja inegavelmente uma criação brasileira. As principais suspeitas apontam para que seja uma invenção medicinal do início do século passado com vista a combater a Gripe Espanhola com aguardente de cana-de-açúcar, limão, alho e mel tendo evoluído para o cocktail como o conhecemos hoje. A sua introdução e disseminação em Portugal está umbicalmente conectada com o fluxo migratório brasileiro para o nosso país.
Pode ler o artigo completo na edição de Dezembro do Jornal Abarca.