O final do Verão aproxima-se e é tempo de vindimar. Enquanto se apanham os cachos das uvas, contam-se anedotas, lembram-se velhas histórias, galhofa-se e o tempo vai passando.
É tempo de vindimar e, mais uma vez, cumpre-se a tradição. Na Quinta do Casal da Coelheira ouve-se uma grande
algazarra. Desde as 8 horas, treze mulheres percorrem as vinhas. Apanham os cachos para os cestos e, quando estão cheios, levam-nos à cabeça para o tractor que, mais tarde, transporta as uvas para a adega. Está-se a vindimar a uva castelão.
Rosa Vicente, 58 anos, anda muito atarefada. É a capataz. Anda nestas lides há cerca de 30 anos, no entanto, as histórias de que fala resumem-se às “brincadeiras umas com as outras. Temos que dizer alguma coisa para o tempo se passar, porque o dia ainda é grande”. Luísa Pires, 46 anos, embora já tenha trabalhado numa escola, faz a vindima desde os 13 anos. Reside na freguesia de Tramagal, como todas as outras, e afirma que gosta da vida do campo, em especial, de vindimar. “É cómico, é uma paródia e, às vezes, até prego com o caldeiro das uvas no chão”. Maria Fernandes, 65 anos, partilha da mesma opinião. “Aqui é tudo bom”. Aliás, “toda a vida trabalhei no campo e cavava com a enxada”. Pelo contrário, Fernanda Maia, 47 anos, considera a apanha da uva “um pouco difícil”. “Levanto-me todos os dias ao quarto para as seis”. Trabalha nesta quinta há três anos, mas também começou a vindimar aos 13 anos. Comenta que, “de um modo geral, nota-se pouco a diferença”, no entanto, “hoje
há mais máquinas”. Já Maria Santos, 52 anos, recorda também que, antigamente, havia mais gente. “Vinham ranchos de todo o lado”. Declara que faz a vindima desde que se lembra de poder trabalhar e é considerada pelas colegas a mais divertida. “Temos de cantar umas cantigas e dizer umas tonteiras senão morremos aqui”, apregoa Maria Santos com uma gargalhada.
De facto, contam anedotas, lembram velhas histórias, galhofam umas com as outras e o tempo passa. O reboque do tractor está cheio e já é quase meio-dia. “À hora de almoço, almoçamos e dormimos uma sesta, nem que seja um quarto de hora”, exclama Luísa Pires.
Às 13 horas, Rosa Vicente ordena que se volte ao trabalho. Ainda faltam quatro horas. Durante a tarde vindima-se a uva aragonez e, até Outubro, o ritual repete-se para todas as outras castas. Depois, terminada a vindima, estas mulheres continuam a deslocar-se à quinta para fazer a manutenção das vinhas e, nessa época, o tempo passa-se da mesma maneira. “No Inverno acendemos fogueiras para nos aquecermos e fazemos uns assadinhos”, confessa Maria Santos muito sorridente.