Home »
01 DEZ 2006
DA COR DO OURO
Por MARGARIDA TRINCÃO

 

Ranchos de homens e mulheres, munidos de longas varas, carregados de panos, sacos e baldes desciam dos “quartéis” bem antes do sol nascer, para mais um dia de jornada. A chuva, o vento ou o gélido frio das manhãs de Novembro não os intimidavam. Era tempo da azeitona.

A neblina, o fumo das caldeiras e o cheiro quente dos lagares impregnavam as aldeias. De madrugada até à madrugada, os lances eram pesados acondicionados nas tulhas à espera de vez para serem moídos. Primeiro as mós, mais tarde os moinhos de martelos transformavam numa pasta fumegante, polpa, caroço e algumas folhas que a tarara não tinha conseguido limpar.

Os lagareiros, untados da cabeça aos pés, acondicionavam os capachos, carregados de massa, uns sobre os outros para que a pilha não tombasse e entrasse direitinha na prensa. Depois, um líquido espesso, oleoso e escuro começava a gemer para as tarefas. A azeitona, que nascera verde, de luto se vestira e para dar luz ao mundo mil tormentos padecera, acabava o seu sofrimento. Agora era esperar que a água ruça fosse para o fundo e o azeite, tal como a verdade, ficasse à tona.

Outras eras de um trabalho duro e sujo, animado pelas conversas das fainas do campo. Os lagares eram locais de encontro dos homens, de desenrolar histórias em torno da caldeira e de alguns petiscos temperados com azeite novo.

Actualmente, a legislação impõe regras rígidas. Primeiro foi o tratamento de águas ruças que dantes corriam livremente para os ribeiros ou para a rua. Depois, normas de higiene cada vez mais rigorosa e os velhos lagares sucumbiram aos novos tempos. No concelho de Abrantes, subsistiram 12 lagares e em Vila Nova da Barquinha, concelho que anualmente promove “A Prova do Azeite”, conta apenas um lagar no seu município. Mação mantém a liderança com 22 instalações licenciadas, Sardoal quatro, Gavião cinco, Ponte de Sôr sete, Vila de Rei e Chamusca
apenas uma.

Os modernos lagares têm linhas contínuas de produção e, dentro em breve, funcionários com tocas e batas.

Nesta edição, a ABARCA percorreu alguns dos lagares da região dos mais tradicionais aos mais modernos e acompanhou a laboração de cada um deles. A azáfama dos ranchos e as suas histórias. 

(0) Comentários
Escrever um Comentário
Nome (*)

Email (*) (não será divulgado)

Website

Comentário

Verificação
Autorizo que este comentário seja publicado



Comentários

PUB
crónicas remando
PUB
CONSULTAS ONLINE
Interessa-se pela política local?
Sim
Não
© 2011 Jornal Abarca , todos os direitos reservados | Mapa do site | Quem Somos | Estatuto Editorial | Editora | Ficha Técnica | Desenvolvimento e Design