Sempre no mês do trigo se cantará
Qu’importa a fúria do mar,
Que a voz não te esmoreça vamos lutar
Numa rua comprida El-rei pastor
Vende o soro da vida que mata a dor
Anda ver, Maio nasceu
Que a voz não te esmoreça a turba rompeu
(Zeca Afonso, “Maio, Maduro Maio”)

Há uns anos largos, ouvi alguém dizer que já não há mais nada para inventar, basta saber copiar e aprefeiçoar o que existe.

Por polémica que seja a afirmação, não deixa de ter uma parte bem real. No “Maio, Maduro Maio”, de Zeca Afonso, está lá tudo. E para nós povo luso, depois de Abril, o poema ainda tem mais significado.

Maio, mês das flores e das rezas, para os católicos que este ano adquire maior significado com a vinda papal. Mas há outras rezas, outros saberes que as gentes lutam para manter à tona, em memória dos ensinamentos  transmitido por gerações.

De Coimbra a Cardigos, passando por Sentieiras, Serra de Santo António, Gavião ou Chamusca, em todos os recantos há histórias para contar. Um olhar diferente sobre uma realidade que de tão presente se torna opaca.

Nesta edição, falamos dessas e de outras memórias/histórias. E história também é a das trigémeas futebolistas de Alcanena.

Não sou saudosista, mas defendo que o que somos é um somatório de vivências e é com ele que conseguimos ver o mundo que nos rodeia. É ele que nos distingue para não sermos apenas mais um num rebanho em que todos repetem a tentativa de usar uma passagem demasiado estreita, por mais evidente que seja o sangramento inevitável.

Memória e história se viveu também no Tramagal com o aniversário do TSU e a imortalização da vida e obra de Eduardo Duarte Ferreira, a quem numa peça deste jornal designámos de “Henry Ford português”.

“Maio maduro Maio, quem te pintou
Quem te quebrou o encanto, nunca te amou”