Duas siglas, a mesma realidade.

Em meados da década de oitenta do século passado um grupo de Professores ligados à Área Agrícola da Escola Secundária nº. 2 de Abrantes, antigo Liceu Nacional de Abrantes, sonhou voos mais altos, propondo a criação de uma Escola Agrícola no Concelho. Eram Ministros da Educação o Eng.º Roberto Carneiro e da Agricultura o Eng.º Arlindo Cunha. O Secretário de Estado da Educação era o Dr. Joaquim Azevedo.

Havia acordo destes dois Ministérios no interesse da criação de uma Escola Agrícola, aqui na região nordeste do Ribatejo, não havendo definição da sua localização, podendo ser criada onde melhores condições de instalação fossem oferecidas.

Claro que, da parte das Autarquias Locais da região, foi uma corrida contra o tempo, procurando cada uma oferecer melhores condições do que a outra. Este era o tempo em que a responsabilidade das Câmaras Municipais, em relação à Educação, tinha a ver apenas com a conservação, manutenção dos edifícios e com a aquisição do equipamento das escolas do 1º. Ciclo e ainda com os transportes escolares de todos os ciclos. Não havia nenhum Eixo Prioritário nos planos municipais que obrigasse à intervenção directa, com gastos do orçamento municipal, na criação de escolas para além dos já citados do 1º. Ciclo e transportes escolares.

Ainda estávamos na época das “necessidades básicas” da população – água, esgotos, estradas e arruamentos, luz eléctrica. Mas, nesse ano de 1988, a visão da Câmara de Abrantes era bastante alargada e deliberou adquirir uma Herdade em Mouriscas para oferecer aos Ministérios em causa as condições para instalação da Escola Profissional de Agricultura de Abrantes, EPAA. Tratou-se da Herdade da Murteira, em Mouriscas. Em boa altura o fez pois, em Outubro de 1989, entravam os primeiros alunos e, em Março de 1990, procedia-se à inauguração da Escola com a presença dos Ministros já citados e também com a presença do Dr. Joaquim Azevedo, o grande defensor e criador deste tipo de ensino – o ensino profissional (extinto que tinha sido após o 25 de Abril de 1974).

Como tudo evolui, mais tarde e EPAA daria lugar à actual EPDRA, Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Abrantes, com instalações na Herdade da Murteira – Património Municipal – e nos edifícios do Antigo Colégio Infante de Sagres, no centro da Freguesia de Mouriscas que, anos antes, tinham sido adquirido pelo Ministério da Educação para instalação da Escola C+S de Mouriscas. Infelizmente a natalidade na região levou ao encerramento da C+S ficando todos os edifícios do antigo Colégio para a Escola Profissional.

Assim, para além das salas de aula e laboratórios, a Escola Profissional dispunha de um internato (80/90 camas, cozinha e refeitório) para alunos residentes em locais distantes do Concelho de Abrantes. Mas não só do País, pois cedo começaram a chegar a Mouriscas alunos vindos dos PALOP’s que ali têm encontrado a formação e o acolhimento que são valores fundamentais desta Escola Profissional. E, deste modo, uma simples deliberação do Executivo Municipal em 1988, com a respectiva responsabilidade financeira, abriu caminho para aquilo que é hoje uma Escola Exemplar cuja abrangência ultrapassa em muito os limites da Região e do País, projectando-se para além fronteiras, levando o nome de Abrantes e de Portugal por esse mundo dos Países de Língua Oficial Portuguesa, de Cabo Verde a Timor.

A EPDRA enfrenta, neste momento, condições de existência difíceis, embora todos reconheçam o seu valor e importância. Os velhos edifícios do Colégio, agora do Ministério da Educação, carecem de recuperação e manutenção urgentes, sob pena do encerramento da Escola por falta de condições para o alojamento dos alunos. Até agora ninguém assumiu!

Tal como em 1988, aqui fica o desafio aos candidatos autárquicos às eleições de 1 de Outubro próximo:

O que pensam da EPDRA, até que ponto estão disponíveis para propor e assumir a sua existência como pólo privilegiado para a Educação e Formação em Abrantes?