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01 AGO 2017
Tancos e a ética militar
Por Jornal Abarca

A actualidade trouxe-nos, por estes dias, coisas muito importantes, aqui tão perto. Num nome de lugar que ao ser evocado nos traz, aos que vivemos aqui, múltiplas coisas do passado e do presente.

Na realidade, Tancos, como Santa Margarida (da Coutada) são daqueles lugares que povoam o imaginário de centenas de milhares de portugueses: tanto pelos anos de guerra em África, como nos anos subsequentes, quando as unidades militares aí presentes continuaram a desempenhar um papel exclusivo no dispositivo de defesa do país.

Houve um roubo de material de guerra em Tancos. O país encheu-se de notícias sobre isso: análises, comentários, demissões, decisões, omissões, jantares e outras tantas coisas, que acontecem nestas alturas, que são de “dificuldade” para uns e “crise” para outros.

Do que menos se falou, a propósito deste caso, embora tenha havido referências indirectas, foi de “ética militar” e, no entanto, no âmago deste evento, estiveram actos e, mais uma vez, omissões, que são do puro domínio desta ordem.

A política, que é como quem diz, os políticos, não gosta da ética militar: soa-lhe a regras, a pudor, a lealdade, a coesão ou seja a tudo o que a política não é.

As forças armadas, em qualquer país em paz e não em guerra ou num país sem ambições hegemónicas ou territoriais (como é o caso de Portugal) são sempre uma questão controversa. Tal não acontece nos países em guerra, em conflito territorial com os estados vizinhos ou, modernamente, objecto de novas ameaças, em particular as de índole terrorista.

A região de Portugal em que nos inserimos possui fortes tradições militares. Estando aqui muita da tradição militar secular mais emblemática de Portugal, a vida pública é indissociável desta cultura. E não perceber isto é não estar em condições de compreender as idiossincrasias mais profundas da região.

Por isso é natural que quando um valor societário crítico, como é a ética militar, é posto em causa, de forma ligeira e absurda, exista a obrigação de reagir:

A ética militar é constituída por um sistema de relações humanas e sociais que tem por base três valores: o da “confiança”, o do “respeito” e o da “coesão” (também dito de “solidariedade”). Quando violados, são os fundamentos do sistema que estão a ser corroídos e é a sua própria sobrevivência e perenidade que é posta em causa. Infelizmente isso tem acontecido muito em Portugal -vezes de mais nas últimas décadas.

O mais das vezes por ignorância da política que raramente consegue ultrapassar a visão imediatista dos eventos sociais com relevância para o Estado.

De um modo sistemático, e por razões que extravasam o espaço de um artigo de opinião como este, o sistema político tem posto em causa, de forma regular, a ética militar.

Por isso, um acto como o acontecido em Tancos não deveria constituir uma verdadeira surpresa, nem ser motivo de tanta especulação.

As forças armadas portuguesas estão, pelo que se lê e pelo que se vê, no fio da navalha. E há muito boa gente na política para quem o seu desaparecimento constituiria motivo de regozijo. Outros, limitam-se a definir políticas que não levam a lado nenhum.

Relembramos os valores em que se funda a ética militar: confiança, respeito e coesão. O roubo de Tancos?

Num sistema político que tivesse como preocupação central criar as condições para que não existisse a mínima hipótese de este sistema ser beliscado, nunca poderia acontecer.

E ao acontecer, só mostra que o caminho que está a ser seguido, é errado.

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