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01 SET 2017
A beleza de Saturno
Por Jornal Abarca

Observar Saturno através de um telescópio constitui uma das mais belas surpresas para quem, pela primeira vez, espreita por um daqueles instrumentos apontado ao que parece ser uma estrela de brilho razoável entre as muitas outras que salpicam o céu. Desde 1609 que o “planeta dos anéis” desperta a curiosidade dos astrónomos que, desde Galileu, tentam descobrir detalhes nos anéis e em toda a estrutura gasosa que envolve o planeta e, ao mesmo tempo, aperfeiçoar telescópios que permitam melhores definições que acabariam por proporcionar avanços extraordinários nas capacidades de estudar nebulosas e enxames de estrelas.

Em 1675, o astrónomo italiano Giovanni Cassini, ao tempo director do Observatório Astronómico de Paris, juntou às suas descobertas das luas Jápeto (1671) e Reia (1675) a observação de uma parte escura entre os anéis, à qual foi dado o nome de “divisão de Cassini”, uma faixa com cerca de 5 000 quilómetros de largura a separar os “anéis A e B”. Desde então têm-se sucedido as descobertas, quer através de grandes telescópios instalados em terra, quer com os que são colocados em satélites que giram em volta do nosso planeta, fora da atmosfera terrestre ou – muito particularmente – nas imagens transmitidas pelos equipamentos de televisão instalados em naves espaciais que passaram a poucos milhões de quilómetros do planeta, ou mesmo, se deixaram prender à sua gravidade e giraram, durante anos, à sua volta.

Um projeto conjunto da NASA (Agência Espacial Americana), da ESA (Agência Espacial Europeia) e da Agência Espacial Italiana conduziu ao lançamento, em 15 de outubro de 1997, da sonda espacial Cassini, levando consigo uma outra mais pequena designada Huygens (físico e astrónomo holandês que explicou a constituição dos anéis de Saturno e descobriu a sua maior lua, Titã), tendo o conjunto Cassini-Huygens entrado em órbita de Saturno quase sete anos depois (julho de 2004). Em 2005, a Huygens separou-se da Cassini e desceu na superfície de Titã, a maior lua de Saturno e a segunda maior de todas as que giram em volta de planetas do nosso sistema solar: Os equipamentos da Huygens foram analisando a atmosfera de Titã à medida que se aproximava do solo e transmitindo os resultados para a Cassini que, por sua vez, os transmitia para a Terra.

Desde então têm sido inúmeras as imagens e enorme a quantidade de dados obtidos pelos equipamentos (câmaras de imagens em infravermelhos e ultravioletas, radares, sistemas de comunicações, detetores de raios cósmicos, e muitos outros), boa parte dos quais já foram analisados, enquanto a maioria ainda dará para muitos anos de trabalhos de pesquisas de inúmeras equipas espalhadas por dezenas de laboratórios de investigação.

Depois de muitas e muitas voltas que a Cassini deu em torno do planeta, dos seus anéis e de algumas das luas, aproximava-se o fim da missão: em março de 2013 ocorria o último voo nas proximidades de Rea (lua descoberta por Giovanni Cassini), no mês de julho seguinte a mais detalhada imagem dos (muitos) anéis e em abril de 2017 a travessia do plano dos anéis, a última passagem nas proximidades de Titã e… em setembro, o mergulho final na atmosfera de Saturno.

Depois, já se sabe: mesmo sem se ver o que vai acontecer nas profundidades do planeta, não se tem dúvidas de que a pressão – cada vez maior – vai “desfazer” os componentes da nave e comprimirá os átomos de carbono de tal modo que eles se transformarão em diamante e, mais abaixo, o próprio diamante fundirá, tal a pressão das camadas mais profundas do planeta que, visto ao telescópio, constitui uma das mais belas surpresas para quem, pela primeira vez, espreita por um daqueles instrumentos apontado ao que parece uma estrela de brilho razoável entre as muitas outras que salpicam o céu.

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