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01 DEZ 2017
A venenosa seca
Por Jornal Abarca

As descrições das secas são testemunhos capitais da dor, do sofrimento e morte que a escassez de água causa aos povos longo da história. Do antes da história os vestígios serão ténues embora escavações arqueológicas deixem antever os estragos causados pelo mesmo motivo.

Na obra Geopolítica da Fome, o seu autor, o brasileiro Josué de Castro insere um texto sombrio, angustiado do Faraó onde implora aos deuses o envio de chuva pois o seu povo está gravemente doente e a morrer de fome porque a seca reduziu o Nilo a um fio de água, levando à perda de colheitas e do líquido que é o elemento vital da vida. A dilacerante prece do Faraó foi impressa numa pedra das cataratas de rio celeiro daquelas paragens, rio corda civilizadora, rio de onde Moisés foi retirado num emaranhado de canaviais.

O pungente testemunho sobre as consequências da seca não se confina ao episódio acima referido, milhões de documentos as registam, os leitores, ainda leitores de livros podem relembrar o poderoso escritor John Steinbeck: “Ao Deus Desconhecido” dramático romance no qual, também como o Faraó, um homem desesperado fecunda a terra seca, estéril, poeirenta à medida que o sol inclemente esboroa os torrões há largo tempo destacados do solo.

O registo histórico das secas em Portugal faz-se na maioria dos exemplos inventariando os danos sofridos pelas populações, daí as fórmulas de religiosidade popular pedindo a bênção de chuva copiosa. Na crónica do mês de Outubro porque já estava saciado de seca, nesse texto procurei sensibilizar o Santo da ferradura e das cerejas a abrir as torneiras celestiais no desejo de comer cogumelos eivados de húmus no decurso de uma viagem ao reino «maravilhoso», que para os distraídos informo ser Trás-os-Montes. Debalde, o Santo ou estava num debate acerca das virtudes ou malefícios do Orçamento, ou pura e simplesmente ignorou a minha prece por ser interesseira e desprovida de fé. Enganar o experiente pescador de almas não é possível dado possuir documentos do nosso passado, presente e futuro de todos nós, demonstrando ser o Sr. Orwell mero plagiador sem o ser.

O Santo exagera no castigo aos portugueses, os nossos rios caducos de água expelem peixes em asfixia ou mortos, no Tejo só os de águas profundas, de maior tamanho vão sobrevivendo, imitando os tubarões «falidos da banca», mesmo oS achigãs da barragem do Castelo de Bode principiam a respirar aflitivamente, ao invés a perca do Nilo (emigrada do rio do menino Moisés) e os lúcios de dentes afiados continuam a despedaçar a espécie trazida dos Estados Unidos pelo cineasta Jorge Brum do Canto realizador de um pequeno filme sobre Abrantes escondido com o rabo de fora. Um mistério digno do Sr. Holmes!

Vai-se iniciar uma campanha de sensibilização para avareza Auto consentida da água, acho muito bem, no entanto, peço a compreensão dos leitores, mas abdicar do banho diário não posso, a razão reside no receio de passar a cheirar mal tal como a minha pituitária descobre a par e passo nos ajuntamentos demasiado grandes, três ou quatro pessoas.

Os portugueses donos de cinquenta ou mais anos, donos de hábitos de limpeza do corpo (da ânima não tanto, por isso a irritação do Santo de barbas cinzentas) conhecem e sabem das vantagens do bidé, do chuveiro, já da banheira só gente sem pressas, utilizadora de sais de banho, amante logo amiga de banheiras, caso da emérita socióloga Maria Filomena Mónica.

Desapossados de água e mal cheirosos correm o risco de nos confundirem com as fataças (também mugens ou taínhas) a arfarem, levando os pescadores noctrurnos ao engano, anzolando a eito, partindo as linhas a preceito, vendo-se envolvidos em teias de múltiplos matizes, exceptuando as de estratégia tão caras a pesquisadores de águas turvas, também estas a esvaírem-se no lodo dos pântanos.

Chova a potes, chovam pás e picaretas, o conforto das barragens cheias e a engorda do leito dos rios só será possível se obtivermos um dilúvio superior ao de onde navegou a Arca de Noé, dado o efeito de estufa, resta-nos a resignação imitando o paciente Job, ou então emigrarmos. Para onde? Para os Estados Unidos não é possível, talvez para a Rússia a comemorar os cem anos da criminosa utopia comunista.

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