A médica e escritora Maria João Carvalho, cronista do abarca desde Julho de 2015, prepara-se para lançar o seu primeiro livro de poesia, “Champagne”, a 19 de Maio na Expoégua, na Golegã.

Parece uma história retirada de um filme de amor em tempo de guerra mas espelha da melhor forma a magia da obra. Maria João Carvalho escreveu e ofereceu estes poemas a Mário Vieira da Silva, que os guardou religiosamente durante quase cinquenta anos..

O cariz político-social da época parece estar umbicalmente ligado à estrutura da obra de acordo com as palavras de Maria João Carvalho: “os poemas que compõem Champagne foram escritos entre 1969 e 1972, quando a guerra colonial estava no auge e as relações entre as pessoas obedeciam a rituais complicados”.

De uma história de amor em tempo de guerra nasceu uma obra que agora vê a luz do dia: “Os caminhos da guerra juntaram  no mesmo local dois jovens e dos olhares de ambos nasceu um conjunto de poemas que ela dactilografou num caderno e lhe ofereceu”, relata a poeta. “Passados quase cinquenta anos tinham sobrevivido os três: ele, ela e o caderno. O caderno que ele guardara entre as recordações da guerra e a realidade”. É desta forma que Maria João Carvalho celebra este reencontro com os poemas que escreveu.

De facto, o título do livro induz precisamente a essa celebração e a autora justifica a escolha: “Champagne porque se deve brindar à vida e às reviravoltas que a vida inventa”, escreve. A capa do livro é uma obra  de Roberto Chichorro produzida em aguarela sobre cartão.

Embora “Champagne” seja a sua primeira obra de poesia, a escritora editou outras obras: “Nero, o cão”, conquistando o Prémio Revelação/Ficção da Sociedade de Escritores e Artistas Médicos ; “Edgar e o canário” vencedor do Prémio Fialho de Almeida; “Uma borboleta quase branca” que foi reconhecido com 1ª Menção Honrosa do Prémio Fialho de Almeida”; e “Jantei ontem em Seattle”.

Maria João Carvalho nasceu em Alcobaça a 28 de Maio de 1946. Licenciou-se em medicina em 1976, foi assistente de bioquímica na Faculdade de Ciências Médicas até 1990 e mais tarde fez a especialidade em cardiologia. Actualmente vive em Parceiros de São João, concelho de Torres Novas.

Deixamos, para aguçar a leitura, o primeiro e o último poema do livro.

Champagne
Maio, 1969

Com sumo e bolhas
brindei por ti,
pela ternura com que me olhas,
pela amizade que não pedi.

Após saudar
o nosso amor secreto,
deixei na taça bolhas e afecto…

Afinal
1972

Não sei de ti
senão os meus momentos,
desejo-te,
mas não posso tocar-te.
E sonho-te
plantando cataventos
e abrindo os braços
loucos e sedentos
fingindo-me
encontrar-te…