Um jovem amigo resolveu dedicar-se à agricultura por, com a sua formação profissional, não conseguir encontrar emprego. Assim, procurou incentivos e lançou-se na produção agrícola.
Num pedaço de terra, lá da aldeia, fez um furo para abastecimento de água e construiu uma estufa para produzir vegetais e alguns frutos pelos mais modernos métodos. Tinha água que lhe custava apenas a energia necessária para a bomba a trazer à superfície e o sistema de rega era automático. Tudo pronto para o início da actividade, convidou os amigos para a “festa” da inauguração. E, assim, começava mais um agricultor.
Só que no dia seguinte, passadas mais ou menos doze horas do início da actividade, o meu jovem amigo vem ter comigo, professor de matemática, para que lhe explicasse onde tinha falhado a instalação do sistema de produção, dado que o tanque de rega ficava vazio ao fim de algum tempo.
Tratou-se averiguar o que se passava.
Então era assim: a bomba do furo enchia o tanque em seis horas e o sistema de rega consumia todo o tanque em quatro horas. Ligados os dois em simultâneo com o tanque cheio, ao fim de umas horas o tanque ficava vazio e lá ficava a produção comprometida por falta de água suficiente!
Depois de analisar a situação problemática chegou-se à seguinte conclusão: o sistema, tal com está, é insustentável! Desilusão do meu jovem amigo. Mas é insustentável porquê?
Bem, é simples: sai mais água do tanque do que entra, logo a água vai descendo até ficar vazio. Logo, das duas uma, ou diminuímos o tempo de enchimento aumentando o caudal da bomba abastecedora de água, ou aumentamos o tempo de consumo do tanque diminuindo o caudal da rega. Simples como água. Se gasto mais do que recebo, lá vem o dia em que fico sem nada – estou insustentável.
Mãos à obra, como não podia aumentar o caudal da bomba houve que diminuir o caudal da rega.
A propósito deste caso lembrei-me do que se passa com o Planeta Terra que, segundo dizem, caminha para a insustentabilidade! Isto porque o homem gasta mais recursos do planeta do que este cria. Assim, o “caudal” de entrada é menor que o de saída, logo virá o dia em que os recursos se esgotarão e a vida na Terra acabará.
Ainda a propósito do sistema do meu jovem amigo veio-me também à memória o que se passa com o Rio Tejo e que tanto brado tem dado nos últimos tempos. O Rio é um sistema vivo que produz e consome recursos. Assim, se a produção for inferior ao consumo temos o sistema a caminhar para a morte. E a produção de recursos está a diminuir por acção do homem que, ignorante ou sábio, vai lançando no sistema produtos que afectam muito o sistema de produção. Neste caso a solução será só uma: o homem vai ter que deixar de lançar no sistema esses tais produtos que impedem a produção.
Conclusão: para que um sistema seja sustentável é condição necessária e suficiente que os gastos (sejam eles quais forem) sejam menores ou iguais aos proveitos (sejam eles quais forem).
A propósito já me dizia a minha mãe: filho, nunca gastes mais do que ganhas!
PS. – De acordo com o algoritmo de contagem do tempo a “abarca” entra no seu vigésimo oitavo ano de existência. Bonita idade para esta bela e airosa publicação que nos prende à leitura do princípio ao fim!
Parabéns à sua Directora e a todos quantos com ela colaboram.
Que faça muitos mais aniversários e que todos nós estejamos cá para festejar!