João Antunes, 41 anos, designer gráfico, só em Londres encontrou um sítio para expressar o seu talento profissional. Em Portugal trabalhou numa churrasqueira e como gestor de peças numa empresa do ramo automóvel, para além de meses intermitentes de desemprego...
O designer não teve grandes dificuldades em se integrar e encontrar trabalho bem remunerado na sua área de formação, mas foi o local para onde foi viver que mais atenuou o jet lag social e cultural que tinha agora começado a sentir. “Fiquei com uns amigos de Viseu num bairro de Stockwell, e, dentro de Londres, não podia ter encontrado melhor sítio. Somos muitos os portugueses que lá vivemos" (...)
Viúvas por prevenção
A emigração, legal ou não controlada, começava; era a resposta natural à fome e à necessidade, numa extremidade do fenómeno migratório, e à carência, em França, de operários dispostos a trabalhos de sapa, mais árduos e menos especializados, no outro extremo. (...)
Ficavam as mulheres, corpos franzinos e baixos cobertos por mantos negros que mal deixavam descortinar os rostos enrugados do trabalho duro e os olhos tristes que, esquivando-se aos olhares, pareciam assim suportar melhor este êxodo que durante os anos 60 tomou de voragem a aldeia. Excetuando o santificado mês das festas de agosto, em honra a São Domingos, Nossa Senhora das Neves e às bebedeiras encharcadas de cerveja até que o sol raiasse, a aldeia era um purgatório suspenso de vultos magros e negros, enlutados por uma fatalidade que achavam necessária, e que mais parecia o cumprir de uma viuvez precoce e assumida, o lado obscuro e silencioso da emigração portuguesa. “Porque veste assim de negro tão carregado, ti Joana?” “Sei lá se ele a esta hora está vivo, se não caiu de algum andaime ou não está numa valeta como um cão abandonado…”, respondia a mulher.
Poderá ler o resto da reportagem na edição em papel do Jornal Abarca, disponível nos postos de venda habituais.