Home »
08 ABR 2019
Aniversário Abarca - As palavras de Adelino Correia Pires
Por Jornal Abarca

Pode falar-se de um jornal, apenas, porque merece…

Sinto alguma saudade em escrevinhar num jornal. Sinto aquela nostalgia de o fazer, mesmo que o faça só quando me apetece. A Margarida sabe como sou e mesmo assim tem sempre a porta aberta para que eu regresse. É (também) por isso que quando penso em escrever por aqui, me lembro de Pascoaes e de um texto que por aqui escrevi. Ainda o Solar tinha o espólio do poeta e ainda o poeta, lá onde estivesse, poderia revisitar S. Jerónimo na mesma mesa onde o escreveu, apagar o último cigarro no cinzeiro que ali deixou, sujar os dedos na velha paleta com que sonhava as tempestades. Depois, depois com o tempo, as coisas fugiram-lhe das mãos, não das suas, mas das da Senhora Dona Amélia, sobrinha-neta do poeta e guardiã de todas e tantas das suas memórias.

É (também) por isso que, quando me lembro de Pascoaes, me lembro de Agustina, afinal sua vizinha se não no tempo, nas nostalgias da alma e dos sentires. Porque Pascoaes e Agustina beberam no Marão aquilo que só quem vê o Tejo serpentear pela lezíria, poderá sentir quando dele se aparta.

Agustina dizia quando falava de uma mulher galante ou de um político, de um artista ou de um homem comum, porque, nesses casos, a sua história é a da sua consciência, que “… aos quinze anos se tem um futuro, aos vinte e cinco um problema, aos quarenta uma experiência; mas antes de meio século não se tem verdadeiramente uma história…”. (1)

Mas a história de um jornal não se conta assim. Porque haverá jornais, tenros de idade, que já fizeram história. E outros haverá, que apesar de velhos, pouco deixarão para contar. Pode falar-se de um jornal, não pela idade mas pelo arrojo, pela coragem de quem começa e tenacidade de quem continua. Pelo desafio do risco e da diferença. Pela marca da paixão, do rigor e da liberdade. Por quem nele escreve e por quem por ele lê. Pode falar-se de um jornal como Pascoaes ou Agustina falaram de Camilo. Sem que se lhe contem os anos que já fez, nem os que terá ainda por fazer. Pode falar-se de um jornal por tudo isto. E pode falar-se de um jornal, apenas, porque merece…

nota: (1) “Sinais de Fogo”, Agustina Bessa-Luís

Por: Adelino Correia Pires

(0) Comentários
Escrever um Comentário
Nome (*)

Email (*) (não será divulgado)

Website

Comentário

Verificação
Autorizo que este comentário seja publicado



Comentários

PUB
crónicas remando
PUB
CONSULTAS ONLINE
Interessa-se pela política local?
Sim
Não
© 2011 Jornal Abarca , todos os direitos reservados | Mapa do site | Quem Somos | Estatuto Editorial | Editora | Ficha Técnica | Desenvolvimento e Design