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11 JUL 2019
Materiais Diversos - Guia para o festival que é a "afirmação da diferença"
Por Jornal Abarca

O Festival Materiais Diversos comemora este ano o 10º aniversário e volta com “uma programação eclética e diversificada”, como o caracterizou Victor Hugo Pontes na sessão de apresentação que decorreu ontem, dia 10 de Julho, em Minde, concelho de Alcanena.

A apresentação foi conduzida por Elisabete Paiva, directora artística do festival, que deu a conhecer o programa da 10ª edição, a decorrer entre 27 de Setembro e 05 de Outubro em Minde, Alcanena e Cartaxo. A sessão decorreu no jardim do Centro de Artes e Ofícios Roque Gameiro, num ambiente intimista, e no qual Elisabete Paiva começou por manifestar a “enorme alegria por conseguirmos que um projecto cultural complete 10 anos em Portugal”, algo difícil de acontecer. “O festival nasceu em Minde e por isso aqui o apresentamos”, frisou.

A aposta no cartaz passa por dar a conhecer vários projectos, autores e formas de fazer arte e não de impor um estilo ao visitante. “Damos tanto valor aos contos tradicionais como a dança contemporânea” e “o festival é o resultado de tudo isso”. Para a directora artística do festival “o nosso papel aqui é exigente e fundamental” para a cultura. “Há projectos para o público geral mas a criação de projectos para públicos mais jovens”, sublinha.

O festival irá ter o “Ponto de Encontro”, um lugar central de convívio entre todos os que fazem o festival: público, equipas, artistas e outros profissionais, comunidade local e visitantes, concebido como um espaço para estar e relaxar, com um pequeno bar e livraria. O “Ponto de Encontro” ocupará a praça central em Minde, um local icónico, e daí viajará para o Cartaxo onde ficará na praça em frente ao Centro Cultural. No final do festival será oferecido à Junta de Freguesia de Minde. A ideia, segundo Elisabete Paiva, é “criar para ser utilizado” e não apenas “fazer sem dar continuidade”.

No dia 28 de Setembro, entre as 11.00h e as 13.30h irá acontecer um debate com Elisabete Paiva e Tiago Guedes, com moderação de António Pinto Ribeiro, tendo como ponto de partida: “Entre a Urbe e a Serra: a experiência do Festival Materiais Diversos”. Este debate será incluído no livro dos dez anos do festival, a lançar no início de 2020.

O Festival Materiais Diversos irá concentrar-se a 27, 28 e 29 de Setembro em Minde e Alcanena, enquanto se deslocará inteiramente para o Cartaxo nos dias finais, de 03 a 05 de Outubro.

Na sessão de apresentação estiveram também Inês Lampreia, directora de comunicação, Teresa Miguel, da direcção de produção e Diana Martins, da coordenação da produção regular.

 

QUE ESPECTÁCULOS POSSO VER?

Naturalmente, essa é uma questão cuja resposta depende do sentido de cada visitante. Contudo, o Materiais Diversos promete trazer à região inúmeros espectáculos a não perder na área da dança, teatro e música.

Pegando no cartaz completo do festival, que pode consultar aqui, abarca toma a iniciativa de recomendar alguns desses espectáculos.

 

TEATRO

“A MENOR LÍNGUA DO MUNDO”
de Alex Cassal e Paula Diogo
27* e 28  Setembro, 21h30, Cine-Teatro São Pedro, Alcanena
Aproximadamente 90 minutos, 6€, *Conversa após espectáculo

Em 2100 o mundo poderá ter perdido metade das suas línguas: dos 7.000 idiomas falados actualmente, espera-se que 50% não sobrevivam até ao final do século. Ao caminharem para a extinção, levam consigo histórias, conhecimentos, identidades, diferenças. Em Portugal estão ameaçadas o minderico, o ladino, o barranquenho e o mirandês, entre outras. Línguas circunscritas a pequenas regiões e localidades, faladas por uma quantidade cada vez menor de pessoas. Línguas que, ainda assim, representam também a cultura portuguesa. A Menor Língua do Mundo é um projecto que se propõe como um espaço de conversação, estabelecendo encontros criativos entre um grupo multidisciplinar de artistas e grupos falantes de minderico, mirandês e barranquenho. O objectivo não é o registo de algo que foi, mas a exploração de possíveis vir-a-ser; menos um museu e mais uma feira. Importa investigar o que estas línguas podem e querem dizer hoje e pensar até que ponto a extinção é ou não inevitável. A Menor Língua do Mundo imagina uma trupe que viaja por uma terra extinta apresentando um espectáculo de variedades com o que foram recolhendo na jornada.

 

“VIAGEM A PORTUGAL”
de Teatro do Vestido
28 e 29 setembro, 19h, Auditório do Sindicato dos Curtumes, Alcanena
4 horas, 6€, Espectáculo em percurso com jantar incluído.

Viagem a Portugal é um espectáculo-percurso-viagem pelo território fragmentado de um país — olhar que também Alexandre O’Neill teve quando expressou “Portugal: questão que tenho comigo mesmo... meu remorso, meu remorso de todos nós...”. Partindo das histórias familiares dos membros da equipa do Teatro do Vestido, localizadas em diversas regiões de Portugal – Minho, Ribatejo, Alentejo, Beira Baixa, Algarve, o Teatro do Vestido procura descobrir como chegámos até aqui?, mergulhando desta feita no(s) interior(es) do país, suas paisagens, pessoas, legados históricos e presentes. Que heranças de 48 anos de ditadura aí perduraram ou perduram? Quando se deram os saltos de mobilidade social que nos fizeram reunirmo-nos enquanto equipa na capital do país, todos detentores de cursos superiores, ao contrário das gerações que nos antecederam? Que Portugal é este que habitamos e de onde vimos?

Este espectáculo conta com a produção de Joana Craveiro, cuja família é oriunda da Zibreira, concelho de Torres Novas.

 

“JUANA AZURDUY”
de Cláudia Gaiolas
29 Setembro, 11h, Sessão para crianças & famílias, Mata de Minde
35 minutos, 3€

Juana Azurduy foi uma mulher-mãe-guerreira de origem indígena, que lutou por um país melhor e pela independência da Bolívia. A cavalo, de espada e pistola em punho, esta mulher valente e gentil enfrentava todas as batalhas desafiando a própria vida. Este espectáculo faz parte de uma série de quatro criada por Cláudia Gaiolas a partir da colecção de livros Antiprincesas sobre mulheres que marcaram a história: Frida Kahlo, Violeta Parra, Juana Azurduy e Clarice Lispector. Estas são mulheres sem coroas, que não viveram em castelos e não tinham superpoderes, mulheres comuns, heroínas na vida real que desafiaram os cânones e revolucionaram o mundo através da arte, literatura ou política. A evocação destas verdadeiras heroínas vem sublinhar a evidência que a vida não é um «conto de fadas», mas também que vale a pena enfrentar dificuldades e lutar por aquilo em que acreditamos.

 

“PLEASANT ISLAND”
de Silke Huysmans e Hannes Dereere
Estreia nacional, 4 Outubro, 21h30, Centro Cultural do Cartaxo
70 minutos, 6€, em inglês, legendado em português, Conversa após o espectáculo

A história de Nauru, uma pequena ilha no Pacífico, pode ser lida como uma parábola da era moderna. Após a descoberta de uma vasta reserva de fosfato no seu solo, a ilha tornou-se um dos países mais ricos do mundo. Cada pedaço de terra, cada canto da ilha foi escavado e extraído fosfato - até que nada permanecesse e todos os seus recursos naturais tivessem sido esgotados. A ilha é hoje um dos países mais pobres do mundo e para sobreviver recebe refugiados da Austrália em troca de uma compensação monetária. Que futuro tem este lugar depois de tamanha ruína ecológica e económica?

 

DANÇA

“MISTÉRIO DA CULTURA”
de David Marques
Ante-estreia a 27 Setembro, 18h30, Fábrica de Cultura, Minde
Aproximadamente 90 minutos, 6€

Mistério da Cultura é, em princípio, sobre cultura, arte e os seus modelos de produção, representação e apoio, mas nunca se sabe. É um puzzle de motivações dos artistas e do público, um thriller burocrático dançado, um enigma por desvendar. Em palco diversas questões se levantam: O que fica do desejo inicial de fazer um espectáculo? O que não se vê quando se assiste a uma peça? Vale mesmo a pena dançar, será melhor falar ou ficar à escuta?

 

“PARTILHAS/ EXCHANGES”
de Filipa Francisco
A 27 Setembro, 17h, e 28 Setembro*, 18h30, Cine-teatro Rogério Venâncio, Minde
60 minutos, 6€, *Conversa após o espectáculo.

Um caderno com várias vozes, no caminho dos contadores de histórias, numa espiral, juntando memórias de danças tradicionais palestinianas, portuguesas, estórias de família, de uma aldeia em peso, Água das Casas. A peça faz-se leitura de um caderno, faz-se dança, faz-se acção, num espaço

onde o público é público, é testemunha, é personagem, participante das várias vozes num só corpo, de uma viagem. Num mundo onde cada vez mais se suprime diferentes vozes, a multiplicidade, a diversidade, esta é uma peça política e poética, uma forma de resistir, de reexistir.

Para Filipa Francisco há um sentimento “especial, por completar dez anos de ligação ao Materiais Diversos” mostrando alguma ansiedade pelo desafio de voltar a fazer um solo, algo que “não fazia há cinco anos”. Filipa é natural de Água das Casas, concelho de Sardoal, “um lugar que hoje não tem mais do que dez habitantes” e esta peça é “uma viagem à minha terra, à Palestina ou ao Rio de Janeiro”, assume. É, em seu entender, “uma peça política e poética”.

 

“CLASSE DO JAIME”
de Susana Domingos Gaspar
29 Setembro, 17h30, Cine-teatro Rogério Venâncio, Minde
45 minutos, 6€, Conversa após o espectáculo

O que pergunta a dança tradicional à dança contemporânea? Em Classe do Jaime dois bailarinos vão ao encontro da dança folclórica da região das Serras d’Aire e Candeeiros. O espectáculo desenha-se numa coreografia em que se restauram os conceitos de peso e erotismo lançando perguntas de um lado para o outro. Classe do Jaime recebeu a Bolsa de Criação Filhos do Meio, da Materiais Diversos, em 2018, atribuída a criadores do distrito de Santarém interessados em criar propostas artísticas sedimentadas numa relação com a comunidade.

“Classe do Jaime” é uma das expressões do Minderico para “baile”. Este é um espectáculo que estreou em 2018 no Festival Bons Sons, em Cem Soldos, concelho de Tomar. “Tem repositórios de ranchos folclóricos, com músicas e movimentos modificados, uma transformação com um ar futurista”, assume Susana Domingos Gaspar.

 

“MARGEM”
de Victor Hugo Pontes
3 Outubro, 21h30, Centro Cultural do Cartaxo
1h20 minutos, 6€, Conversa após o espectáculo

“Margem”, galardoado com o prémio Autores 2019 para melhor coreografia, pela Sociedade Portuguesa de Autores, tem como inspiração o romance de 1937 de Jorge Amado, Capitães de Areia, que retrata um grupo de crianças e adolescentes abandonados, que vivem nas ruas de São Salvador da Baía, roubando para comer, e dormindo num trapiche – um armazém onde, como uma espécie de família, se protegem uns aos outros e sobrevivem a um dia de cada vez. 80 anos depois da publicação do livro, importa questionar quem são os novos capitães de areia, inspirando-nos na realidade social destas crianças, e conscientes de que nem sempre há finais felizes.

Para Victor Hugo Pontes esta peça fala-nos sobre “ruínas periferia, amor, família, sobre homens grandes” tendo no público um efeito de “murro no estômago”.

 

MÚSICA

MANEL CRUZ
28 de Setembro, 23h30, Fábrica de Cultura, Minde
60 minutos, 6€

Foram várias as paragens de Manel Cruz, nome incontornável da música portuguesa. Conhecemo-lo dos Ornatos Violeta, em Pluto, no lugar errático dos SuperNada e, finalmente, no projeto enigmático Foge Foge Bandido, mostrando recortes, vozes e memórias da viagem – desta vez a solo – que havia feito nos últimos 10 anos. Manel Cruz, lançou recentemente o álbum Vida Nova e vem partilhá-lo na 10ª edição do Festival Materiais Diversos, num ambiente único e intimista.

 

DJ MABOKU
05 de Outubro, 23h00-03h00, Mercado Municipal do Cartaxo
Entrada Livre

Nascido em Angola, mas desde criança a viver no Bairro do Pendão, em Queluz, Maboku é um DJ, cujo estilo de mistura ao vivo tem seduzido todas as pistas de dança. Fez parte dos Piquenos DJs do Gueto (com Lilocox, Liofox, Dadifox, Firmeza), modelados pelo exemplo dos pioneiros DJs do Gueto (Marfox, Nervoso, Pausas, Jesse, Fofuxo, Nk), com quem editou o EP em vinil de estreia 'B.N.M. / P.D.D.G.' na editora Príncipe no final do ano de 2013. Em 2015 lançou o EP 'Malucos de Raiz’ pela dupla C.D.M. (Casa da Mãe Produções) também sob a chancela da Príncipe, que se revelou uma referência no percurso da editora e da cultura musical, marcando uma nova geração de produtores. DJ Maboku partilhou até recentemente com DJ Lilocox a dupla C.D.M, imersa na cultura juvenil dos bairros sociais onde viviam e se moviam, uma música electrónica de dança inovadora e vibrante. A dupla acabou por seduzir e angariar em pouco tempo uma imensa legião de entusiastas nos subúrbios da capital, diáspora PALOP e todo o ouvinte atento e ávido por frescura estética no som que nos põe a dançar.

 

THEY MUST BE CRAZY
04 de Outubro, 23h30, Mercado Municipal do Cartaxo
90 minutos, 6€

They Must Be Crazy é uma banda de afrobeat, sediada em Lisboa, que em 2017 lançou o seu primeiro disco, Mother Nature. Formado essencialmente por músicos portugueses, este projecto inspira-se na cultura musical africana e procura transmitir o calor e o groove destes ritmos pelos palcos por onde passa. Este é o último concerto do Festival Materiais Diversos, um momento para dançar e celebrar!

 

OUTRAS APRESENTAÇÕES

“PROJECTO PERGUNTA” (Acção Participativa)
de Mil M2
Estreia nacional de 1 a 4 Outubro com acções pela cidade do Cartaxo e 5 de Outubro no Ponto de Encontro. Sessão de encerramento a partir das 15h

O “Projecto Pergunta” é um dispositivo de participação cívica. Tem como objectivo gerar, tornar viral e potenciar debates colectivos no espaço público, activando o conhecimento colectivo em territórios e comunidades. Um pouco por toda a cidade do Cartaxo, o público é convidado a participar num conjunto de actividades para promover ferramentas de questionamento sobre diversos temas sociais. Através de uma intervenção pensada para cada lugar onde acontece, o Projecto Pergunta fomenta novos tipos de discussão e consciência cívica.

 

“PARA UMA TIMELINE A HAVER – GENEALOGIAS DA DANÇA ENQUANTO PRÁTICA ARTÍSTICA EM PORTUGAL”(Exposição)
de João dos Santos Martins, Ana Bigotte Vieira e Carlos Manuel Oliveira
Inauguração a 4 Outubro, 19h00 - De 4 Outubro a 20 Outubro, 4.ª e 5.ª feira, 15h às 20h; 6.ª e sábado 15h às 22h. Domingo (se houver eventos) 15h às 19h, Centro Cultural do Cartaxo
Entrada Livre

Construindo uma cronologia para a dança em Portugal, Para uma Timeline a Haver é um exercício colectivo de investigação e de sinalização de marcos relativos ao desenvolvimento e disseminação da dança como prática artística em Portugal nos séculos XX e XXI, com especial incidência na segunda metade do século XX.

O projecto propõe a construção singular de uma série de cronologias para a dança contemporânea em Portugal, relacionando eventos de matriz social, política, cultural, biográfica e artística – sugeridos como significativos por bailarinos, coreógrafos, críticos, técnicos, historiadores e espectadores.

Com este exercício, trata-se de sinalizar episódios que – influenciando autores, práticas e instituições – foram delineando a história da dança em Portugal, inserindo-os numa perspectiva alargada tanto das transformações pelas quais a sociedade portuguesa passou como do discurso sobre o coreográfico (e o que é ou pode ser a dança como prática artística), de modo a entrever tensões, momentos-chave e episódios emblemáticos.

Após vários meses de pesquisa na Escola Superior de Dança, em Lisboa, Para uma timeline a haver chega ao Centro Cultural do Cartaxo para dar a conhecer esta parcela do património cultural português, na forma de exposição, visita ou workshop.

 

“AS FAR AS MY FINGERTIPS TAKE ME”(Performance)
da premiada artista libanesa Tania el Khoury

Esta apresentação irá abrir o Festival no Museu de Aguarela Roque Gameiro, em Minde, no dia 27 de Setembro. Apresentada pela primeira vez no nosso país, esta performance promove o encontro entre um espectador e um performer, através de uma parede, com o objectivo de questionar a actual condição dos refugiados na Europa e a sua relação com os europeus. Não se vêem, mas os seus braços tocam-se. O performer desenha no braço de cada pessoa, ao mesmo tempo que se ouvem aqueles que recentemente desafiaram a discriminação na fronteira.

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