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13 ABR 2020
Covid-19 - E Depois da Tormenta?
Por Jornal Abarca

O Estado de Emergência obrigou vários empresários a encerrarem temporariamente os seus negócios. Outros trabalham com muitas limitações. O sufoco económico preocupa a curto prazo mas também a retoma. Avista-se uma nova crise. 

“De um dia para o outro as pessoas deixaram de aparecer”. O lamento é de Fernando Pereira, proprietário do restaurante Dom José Pinhão, em Constância. “Aconteceu ainda antes do Estado de Emergência”, recorda. “No dia 11 de Março estava tudo bem, no dia 12 de Março não apareceu ninguém para o almoço”. Acto contínuo, fechou portas por tempo indeterminado.

Um destino que se alarga a outras áreas. Cristina Matos detém um salão de cabeleireiros no Tramagal e no dia 15 de Março decidiu fechar as portas: “Trabalhamos diariamente com as pessoas, para as atendermos temos de lhes tocar e é impossível fazer esse tipo de trabalho cumprindo as normas de segurança”, justifica.

Nelly Pequeno, co-proprietária do Hotel Amiribatejo, que se situa em Amiais de Baixo, na rota de peregrinação até Fátima, dá o ano como perdido: “Abril e Maio são os melhores meses do ano e até ao final de Abril vamos estar encerrados”, lamenta. Admite que ainda assim não havia outra solução: “Concentramos aglomerados de pessoas, não queremos pôr os clientes e nós próprios em risco”. Desde 13 de Março que ninguém ali pernoita.

Ainda assim, não está parada: “Continuamos a preparar e a melhorar as nossas instalações para que quando reabrirmos estejamos de braços abertos para receber toda a gente”, anuncia.

Por seu turno, Vítor Hugo Cardoso, proprietário da empresa Expofixo, de venda de materiais para a construção civil, e Tiago Bento, dono da Sarpneus, empresa de pneus no Sardoal, continuam de portas abertas. Mas os lamentos não são menores: “De dia para dia agudiza-se um bocado o problema. A nível de empresas vai-se notando a falta de procura de material de construção”, diz Vítor Hugo. “Estamos a trabalhar mas está tudo parado. Nem vinte pneus pomos por dia”, diz Tiago Bento suspirando por dias melhores.

O decréscimo de clientes tem, naturalmente, um efeito bola de neve. Sem consumo não há produção, não há investimento. E não há dinheiro para pagar dívidas, créditos e salários. Na sua edição de 21 de Março, o Expresso Economia lançava dados preocupantes: a taxa de desemprego pode atingir os 14% nos próximos meses. “Até posso aguentar 2 ou 3 meses, o problema é depois” diz Fernando Pereira. “Mas há pessoas que não têm liquidez para pagar salários no próximo mês”, confidencia.

Até ao momento os apoios anunciados pelo Governo e bancos centram-se sobretudo na abertura de linhas de crédito, algo que preocupa os pequenos e médios empresários na medida em que se irão endividar mais sem saberem quando sairão desta crise e em que condições.

“Vai ser muito complicado”, admite Fernando Pereira. “Nós vivemos essencialmente das pessoas que vêem de fora. Os clientes dificilmente vão aparecer”, antecipando uma quebra no turismo mesmo depois do Estado de Emergência ser levantado. Deixa um apelo aos governantes: “A retoma vai ser lenta e muito difícil. Não estamos a pedir favores, mas precisamos de apoio. Como fizeram com os bancos, senão ficamos às portas da morte”, sentencia.

Vítor Hugo Cardoso lembra a implicação destes efeitos nas questões sociais: “Temo a falta de bens de consumo de primeira necessidade” e lembra que “o meu emprego é a subsistência da minha família”. Assim vivem os dias muitos portugueses neste momento.

Analistas económicos prevêem uma queda do Produto Interno Bruto em 2020 até 8,5%, quando Portugal nos últimos anos vinha a registar um crescimento e tudo apontava para que isso sucedesse em 2020. “

Até quando?
Essa é a principal dúvida na cabeça dos portugueses neste momento. Até quando irá durar este modo de vida? As previsões mais recentes apontam para um pico da crise até final de Maio. Estamos a falar de quase três meses de portas fechadas.

Vítor Hugo Cardoso e Tiago Bento alinham uma vez mais o discurso. “Mais do que um mês nesta situação será incomportável”, diz o jovem sardoalense. O tramagalense acredita que “se a partir de meados de Abril a situação não mudar isto vai ser caótico”. Mesmo com uma melhoria no próximo mês, não tem dúvidas de que “até ao fim do ano as coisas não vão ser fáceis, isto não se resolve de um dia para o outro”.

Cristina Matos admite triste que “não sei quando poderei voltar a trabalhar em segurança”, o que aumenta as incertezas. “Trabalho por conta própria, se não trabalhar não ganho dinheiro”. Apela, também, ao bom senso dos nossos governantes: “O Estado deve ter alguma atenção a quem tem pequenos negócios”.

Também Nelly Pequeno vislumbra dias complicados: “Economicamente isto vai trazer consequências porque nós sobrevivemos directamente do Hotel. Não temos outra fonte de rendimento. Não havendo receita é difícil pagar as despesas”.

Só será possível quebrar este ciclo com financiamento e não com mais endividamento. É por isso que o adiamento de prestações e outras despesas parece aliviar neste momento os empresários mas não será solução a longo prazo. Por isso, Tiago Bento pede apenas “que isto termine rapidamente”.

Nouriel Roubini, economista que previu em 2000 a crise do subprime de 2008, não tem dúvidas: “Esta crise é pior do que essa”.

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