Decretado o Estado de Emergência foram milhares os idosos que ficaram completamente isolados, sem contacto com o exterior e longe dos amigos com quem partilhavam os dias.
Para combater essa solidão a Guarda Nacional Republicana (GNR) iniciou um programa de proximidade junto desta camada da população que consiste na realização de videochamadas para que possam ver, e falar, com os familiares com quem não podem contactar.
Esta tarde o Destacamento Territorial da GNR de Torres Novas esteve na Azinhaga, concelho da Golegã, e possibilitou que Ana de Oliveira Felício, 90 anos, utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia da Azinhaga, pudesse ver a filha Maria Assunção que é emigrante na Suíça.
Apanhada de surpresa, a D.Anita, como é conhecida no Centro de Dia, ainda brincou com os agentes da GNR: “Querem ver que é desta que vou presa?”, atirou bem-disposta. Quando viu a filha do outro lado da videochamada ficou visivelmente emocionada. Também Maria Assunção se mostrou emocionada agradecendo aos agentes a “ideia maravilhosa” e desejando “tudo de bom para vocês”.
Uma ideia para continuar
A Capitão Irina Pinto, que conduziu a iniciativa juntamente com o Cabo Miguel Faustino, explica que esta iniciativa “surgiu quando foi decretado o Estado de Emergência, o que provocou isolamento social”, particularmente grave no caso dos idosos, pois a maioria é infoexcluída. “As equipas das secções de Prevenção Criminal e Policiamento Comunitário visitam idosos sozinhos e isolados e fazemos uma videochamada para familiares que não podem estar com eles”, explica.
As reacções são “muito positivas, tanto da parte dos idosos como dos familiares, ficam muito comovidos”, diz a Capitão. A justificar isso estão as palavras da D.Anita: “Até a minha filha ficou feliz com isto”, garante. Notoriamente feliz assume que “gostei muito de ver a minha filha, não a via desde Fevereiro quando ela cá veio para o meu aniversário”. Ainda que lembre que fala com a filha todos os dias ao telefone, não tem dúvidas de que “gosto mais assim, de lhe ver a cara”. Terminou agradecendo aos militares da GNR e à Santa Casa da Misericórdia da Azinhaga pelo momento proporcionado: “Muito obrigado a todos”.
Embora a iniciativa tenha surgido com o período de Estado de Emergência provocado pela pandemia da Covid-19, a Capitão Irina Pinto admite que “agora que foi identificada esta necessidade, acredito que o projecto seja para continuar”.
Uma “iniciativa fundamental” para contornar “um período difícil”
Sofia Neto, Directora Técnica da Santa Casa da Misericórdia da Azinhaga, é a responsável por articular o processo entre a GNR e os utentes. “Desde 16 de Março que os utentes foram obrigados a vir para casa”, uma situação que embora seja necessária “contraria a génese do que é a resposta social”.
Ainda assim, frisa que a instituição tem garantido um acompanhamento diário aos utentes em suas casas: “Todos os dias servimos o pequeno-almoço, o almoço e o lanche e fazermos a higiene quando necessário”. Além da resposta social que é dada, Sofia Neto lembra que “esta é a única forma de contacto” que estes idosos têm em todo o dia.
Admite que este tem sido “um período difícil também para a instituição que teve de se adaptar a novas regras e métodos de trabalho” e que “este confinamento e isolamento tem sido um desafio”. Para contornar estas dificuldades sublinha a importância deste iniciativa da GNR: “É de louvar, é uma iniciativa fundamental que ajuda a combater o isolamento e a solidão”, garante.
