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01 MAI 2020
As lutas pela liberdade começaram em Maio
Por Jornal Abarca
Manifestação no 1º de Maio de 1974 em Abrantes
Manifestação no 1º de Maio de 1974 em Abrantes

No dia 1 de Maio de 1886, eclodiu nas ruas de Chicago, nos EUA, uma manifestação de trabalhadores que reivindicavam a redução do dia para 8 horas de trabalho, dando origem a uma greve geral no país. Em 1920, a URSS adoptou essa data como feriado nacional. Ainda hoje o governo dos EUA não reconhece o 1º de Maio como o Dia do Trabalhador.

Se Abril abriu o caminho da liberdade a um Portugal vincado pela ditadura, a grande data da luta operária será sempre o 1º de Maio. Antes ainda da liberdade, a data já era comemorada um pouco por todo o país. Durante o Estado Novo, a celebração deste dia era reprimida pela polícia. O que não impedia que a data fosse celebrada nalgumas terras.

 
A Festa Proibida
Eduardo Duarte Ferreira saiu pela primeira vez à rua com a Sociedade Artística Tramagalense [SAT] a 1 de Maio de 1902 e nada faria parar as suas intenções de comemorar a data, nem a ditadura. Feriado na Metalúrgica Duarte Ferreira [MDF], o 1º de Maio era um dia de festa, como recorda José Madeira, trabalhador da MDF, Berliet e, consequentemente da Mitsubischi durante “42 anos, 1 mês e 23 dias”, diz prontamente. “A empresa abria os portões e fazia uma festa para a população” que trabalhava, maioritariamente, na metalúrgica. “Havia o almoço com os trabalhadores e ia tudo ao campo ver o jogo de futebol, porque TSU [Tramagal Sport União] estava na segunda nacional”. Nesse dia costumava também dar-se “uma demonstração de viaturas militares e a malta ia assistir”. Recorda ainda que “havia baile, comes e bebes” numa altura em que “passaram grandes artistas pela metalúrgica”. A origem de tudo, não se perdeu enquanto a MDF esteve em funcionamento: “A banda da SAT fazia um cortejo pelas ruas do Tramagal”, relembra. “Tenho saudades e continuo a participar no 1º de Maio, já o fazia antes do 25 de Abril”, refere com orgulho. “Era um dia de festa!”, sentencia.

Apesar da realização da “festa proibida”, nunca houve qualquer tipo de punição para a MDF ou os seus proprietários.

 

Uma Luta Operária
Não só no Tramagal a luta operária desafiava os ditames da ditadura. Em Torres Novas, várias indústrias são referenciadas ao longo dos anos por causa das lutas dos seus trabalhadores: Metalúrgica do Nicho, da Costa Nery, Metalúrgia da Videla, a rodoviária dos Claras ou coisas tão vagas como “os operários duma empresa em Barreira Alva”, como regista a obra “Canções de Liberdade”, editada pela Câmara Municipal de Torres Novas em 1994.

Desde cedo a luta operária se mostrou bastante efectiva em Torres Novas. Na mesma obra há a referência a “prisões relacionadas com a luta dos trabalhadores agrícolas da Brogueira, por melhores jornas (salários)”, em 1939.

Se a luta não escolhe datas, a verdade é que o 1º de Maio sempre foi dia de paralisação em algumas indústrias, como é conhecido o exemplo da Metalúrgica Costa Nery. O aparelho de Estado estava atento a essas movimentações, como prova a circular confidencial da Legião Portuguesa que ordena a constituição de um sistema de vigilância e identificação durante o 1º de Maio de 1970.

Em 1973, há registo de trabalhadores dos transportes Claras “exigindo aumento de salários” e da Metalúrgica Costa Nery em que “cerca de 400 trabalhadores”, exigindo o mesmo, “paralisam o trabalho durante 45 minutos”.

Tudo isto vem provar que a luta pela liberdade começou e sempre se fez perdurar na luta pelos direitos dos trabalhadores. Enquanto a ditadura calava todos os medos, era no 1º de Maio – e tudo o que ele representa – que a liberdade sobrevivia. À custa de nomes como o de João ‘Espanhol’, que entrevistamos nesta edição, e várias vezes aparece referenciado nestas lutas.

A 25 de Abril de 1974, no mesmo dia da revolução, a concelhia torrejana do MDP CDE (Movimento Democrático Português/Comissão Democrática Eleitoral), emite um comunicado onde “exige de imediato”, entre outras, “o restabelecimento de todas as liberdades democráticas, incluindo as sindicais e o direito à greve”. A luta de Maio sempre existiu, em Abril ganhou forma.

* Texto originalmente publicado a 01 de Maio de 2018.

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