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08 OCT 2020
CRÓNICA - "O mural que falta e a falta de moral", Ricardo Rodrigues
Por Jornal Abarca
Foto: DR
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Esta é uma história triste. De como o poder autárquico está entregue, salvo raras excepções, a gente que não sabe o que custou a liberdade, que faz escola e carreira dando graças à lista telefónica que uma vida de politiquices lhes oferece e que lhes falta em carácter o que lhes sobra em soberba.

O dramaturgo Bernardo Santareno, nascido em Santarém, completaria em 2020 o seu centenário e, por isso, uma série de iniciativas estão a ser promovidas na cidade. Uma das quais incluía a inscrição de uma frase sua, tão actual nos tempos que correm, num muro: “Lutem para que o fascismo não torne a acontecer neste país”.

Motivada por alguma força oculta, a autarquia de Santarém rejeitou a proposta e, assim, proibiu a inscrição da frase. O presidente da Câmara, Ricardo Gonçalves, assumia assim que não queria manifestações antifascistas na sua terra, mesmo que motivadas pelo centenário de um dos nomes maiores da história do concelho. Algo que a pequenez do autarca nunca lhe permitirá alcançar: o lugar na história para Ricardo Gonçalves está, a partir desta rábula, guardado num sítio sombrio e triste.

Mas o melhor ainda estava para vir. Alguém, porque “há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não”, decidiu pintar a frase num muro junto ao Santarém Hotel. Ricardo Gonçalves não comentou, escondeu-se no bunker de silêncio onde se guardam os cobardes, à espera que ninguém se lembrasse dele nesta infeliz trágico-comédia. Desrespeitando a memória de Santareno, alguém decidiu adicionar “e comunismo” depois de “fascismo” na frase (ainda que virtualmente).

Ricardo Gonçalves, evidenciando toda a sua idiotice, e até uma veia fascista, porque a anti-comunista já era de esperar, celebrou esse facto publicamente. Na sua página no Facebook publicou a fotografia com a frase alterada e anunciou que “Dentro em breve, neste e noutros muros da nossa cidade irão nascer obras de arte urbana que vão encher de orgulho todos os Escalabitanos”.

Tudo nesta declaração deve enojar o mais sensato dos Homens. Não só temos um presidente de Câmara que coloca o fascismo e o comunismo ao mesmo nível na história de Portugal, ignorando que um privou o seu povo da liberdade e o outro, com todos os seus defeitos, lutou por essa liberdade, como aproveita a violação da memória de um ícone da cultura da terra para se promover enquanto pequeno fascista.

O autarca anuncia mais “obras de arte urbana que vão encher de orgulho todos os escalabitanos” depois de ter proibido a pintura da frase original. O que enche de orgulho Ricardo Gonçalves não é a arte nem a memória de Santareno, um dos maiores escalabitanos da história: é a promoção de uma agenda pessoal e partidária que ofende todos os Homens de bem. Fica até a sensação de que Ricardo Gonçalves teria aceite a pintura da frase em primeira instância caso ela colocasse o comunismo no mesmo saco da história que o fascismo, ainda que essa frase ofendesse Bernardo Santareno.

Como referi no início desta crónica, esta é uma história triste. É uma história que os escalabitanos não devem esquecer. E, tal como Bernardo Santareno pediu, lutem para que o fascismo não torne a acontecer neste país. E que os idiotas voltem para o bunker de onde nunca deveriam ter saído.

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