Eram eles, os avós, as bibliotecas das aldeias, quando algum morria a aldeia ficava indelevelmente mais pobre. Hoje, velhos como sempre, estão ignorados e perderam o seu prestígio antigo, na melhor das hipóteses são entregues a armazéns que os alinham como mercadorias, e onde continuarão a envelhecer a troco de robustas contribuições mensais.
Avós ricos e avós pobres. Avós amorosas, avós secas e altivas, umas que sempre estiveram presentes, e a sua morte provocou uma dupla orfandade, e as que nunca contaram. Avós eruditos e que “liam desalmadamente”, e outros que não conheciam um algarismo e ninguém sabia como faziam contas complexas e que davam… certo. Avós que foram mães, e avós sempre ausentes. E avós que nunca conheceram os netos, e estes adoram-nos pelas narrativas emolduradas que deles fazem em casa e na rua os que os conheceram. Avós que andavam sem sapatos porque gostavam - e só os usavam à entrada da vila porque aí era proibido não os usar, - e avôs almocreves, que eram importantes apenas pelo simples facto de que sabiam ler e sabiam escrever. Avôs que engravidaram um dia as avós e fugiram para América para só conheceram os netos 50 anos depois da fuga, e avós que são a preservação da língua portuguesa na diáspora, e são eles que garantem que os netos continuem a falar a língua das suas raízes portuguesas no estrangeiro. (...)
Há muitas formas de se ser avô e avó, incluindo ser-se de sangue ou postiço, e embora nas sociedades atuais os livros tenham substituído o saber com cabelos brancos, há também livros que os reconhecem e homenageiam. É isso que acontece com Avós: Raízes e Nós, a obra antológica de 68 coautores organizada por Aida Baptista, Ilda Januário e Manuela Marujo, que a editora Alma Letra acaba de editar. (...)
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