Era o último grande evento na região em 2020 e um dos mais singulares a nível nacional. A “Feira da Golegã” foi cancelada, em consequência da pandemia, numa decisão difícil mas necessária. José Veiga Maltez, presidente da autarquia, mostra-se triste mas esperançado de que o certame regresse em 2021.

A simpatia, a cordialidade e fazer questão de bem receber são imagens de marca de José Veiga Maltez, presidente da Câmara Municipal da Golegã, e isso não se desvanece em tempos como os que vivemos. Superlativa à filiação profissional que as funções de autarca lhe oferecem na organização da “Feira da Golegã”, é a ligação afectiva às tradições equestres. É por isso que se revela triste com a decisão de não se celebrar a troika de feiras que anualmente, em Novembro, a Golegã acolhe: a Feira Nacional do Cavalo, a Feira Internacional do Cavalo Lusitano e a Feira de São Martinho. “O sentimento é de pena e de lamento”, confessa.

Outra das características marcantes do autarca é o seu pragmatismo. Por isso, apesar da tristeza “estou tranquilo com a minha consciência” pela decisão tomada de não executar um evento visitado por milhares de pessoas: “Como presidente da Câmara Municipal da Golegã, da Feira Nacional do Cavalo e como médico não tinha outra hipótese perante as vicissitudes do que nos está a assolar”.

A decisão final foi tomada em reunião de câmara a 30 de Setembro, mais de um mês antes do início previsto do certame, que se realizaria entre 6 e 15 de Novembro. É a primeira vez desde a sua criação, em 1972, que não se realizará a Feira Nacional do Cavalo: “Era impossível fazer a feira nestes moldes”, diz Veiga Maltez. O autarca relembra que quando a decisão foi tomada “ainda nem estávamos em situação de calamidade” e, desde então, a situação tem piorado de forma galopante. Também por isso as pessoas acabam por compreender a decisão: “Não houve contestação à decisão, há uma certa resignação”.

Ainda assim, a resignação não é sinónimo de satisfação. O impacto económico destes dias é crucial para a Golegã: “É uma lufada de ar fresco”, começa por dizer Veiga Maltez. Além do dinheiro que circula na vila nestes dias, fruto das actividades que ali se instalam, este é também um momento que gera importante receita para o município: “Não há um único patrocinador, não entrou dinheiro nos cofres autárquicos, imagine o que se perdeu”, explica. Corrosivo, assume que “tudo se desmoronou”.

José Veiga Maltez garante que “não vamos permitir qualquer tipo de comércio provisório, nem sequer um carro de castanhas”. Dá o exemplo de “muitas pessoas que marcam as suas férias no início do ano para este período” e por isso faz um pedido em contra-senso com a sua natureza mas justificado pelo momento: “Aconselho as pessoas a não insistirem” pois “não permitiremos qualquer abuso”, nem sequer para passear a cavalo das 20.00h às 08.00h: “Há uma deliberação da autarquia que proíbe a circulação de cavalos nesse horário”, informa.

O apelo do autarca estende-se também para o dia de São Martinho, que se comemora na Golegã desde 1571: “Não temos absolutamente nenhuma iniciativa prevista” assumindo de forma completa o compromisso pela saúde pública. “Não podemos proibir as pessoas de irem à capela, mas gostaríamos de ter o mínimo de pessoas, é insensato”, afirma. As medidas tomadas, acrescenta, são “por um bem maior, pelo nosso país e pelos nossos cidadãos”.

Instado a comentar se existe alguma iniciativa alternativa pensada para o próximo ano caso a pandemia persista, Veiga Maltez lembra que “a Feira Nacional do Cavalo tem um programa muito próprio em todas as variantes” que não será desvirtuado. Ainda assim, mostra-se confiante de que “tudo se encaminhará para uma grande festa em 2021”.