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18 DEZ 2020
REPORTAGEM: "Estão a estrangular a restauração"
Por Jornal Abarca

Os sectores da restauração e dos eventos foram dos mais afectados pela pandemia da Covid-19. A quebra de rendimentos levou alguns a emigrar e outros a procurar novas saídas profissionais para fazer face aos encargos. Um cenário negro que teima em persistir.

Carla Mendes, proprietária do café e restaurante Tascá na Esquina, em Alcanena, reclama com as medidas de limitação de horário: “Estamos a ser altamente penalizados. Estamos com quebras enormes, no fim-desemana [com recolher obrigatório às 13.00h] tivemos quebras superiores a 60%”.

Também Joaquim Ramos, proprietário do restaurante Quatro Talhas, no Sardoal, diz que “a facturação desceu brutalmente nos fins de semana em que temos de fechar às 13.00h” mas alarga o protesto ao “recolhimento obrigatório às 23.00h”.

Para Carla “a dualidade de critérios do Governo acaba por não fazer justiça aquilo que foi declarado anteriormente” porque inicialmente “foi anunciado que os surtos nos lares não iam contar para a avaliação, e estamos a ser prejudicados por algo que não corresponde à nossa realidade”. Neste momento Alcanena é um concelho de risco extremamente elevado de transmissão de Covid-19 “quando temos um surto num lar”.

Um estudo do Infarmed, tornado público a 19 de Novembro, concluiu que apenas 2% dos contágios acontecem, de forma comprovada, em restaurantes. Por isso, acredita Carla, não faz sentido “que os restaurantes cumpram todas as medidas e acabem por levar por tabela” quando os surtos acontecem “em lares, hospitais ou escolas”. Estas decisões pecam, assim, por excesso: “As medidas que estão em vigor e que temos de cumprir garantem a segurança dos clientes. Mais do que isto é estrangular o sector da restauração”, conclui Carla.

Joaquim Ramos reconhece que “não gostava de estar na pele de quem decide” mas não tem dúvidas de que “é mais seguro vir ao restaurante do que as pessoas estarem ao molho na rua à espera para entrar no supermercado, onde não respeitam o distanciamento”. Apesar de lutarem com todas as armas ao dispor, o momento é muito complicado: “Custa imenso estar nesta situação”, reconhece.

Embora o Governo garanta linhas de apoio, Carla Mendes tem dúvidas sobre a eficácia destas medidas: “A forma como vão contabilizar o prejuízo, de acordo com o e-factura, é ridícula. Quem pede número de contribuinte na factura são empresas. As famílias e grupos de amigos que nos visitam, sobretudo ao fim-de-semana, pedem factura simplificada”, lembra. A solução passaria por compensar os proprietários “de acordo com os gastos e os postos de trabalho”. O mais importante seria “avaliar caso a caso” até porque “não defendo apoios a fundo perdido de forma indiscriminada”, ressalva. Mas seria mais produtivo “os estabelecimentos fazerem prova dos seus encargos e o Estado assumir uma percentagem desta responsabilidade”, acredita. “A isenção do IVA da electricidade e da água” seriam também medidas que ajudariam a aliviar a pressão.

Por seu lado, Joaquim Ramos lembra que “o Estado deu-nos apoios mas acabaram por receber tudo de volta”. Explica: “Com os apoios que recebi tive de regularizar a Segurança Social e as Finanças. O dinheiro que veio foi todo para esses pagamentos, canalizado para o Estado”. Não lhe restou outra alternativa a não ser “pedir um empréstimo ao banco, mas vou ter de pagar juros”.

Ainda assim, sublinha a importância dos contributos do Turismo de Portugal, que “emprestou dinheiro sem juros” e da autarquia do Sardoal: “Na factura da água só pago as taxas e é um valor irrisório, essa foi uma ajuda brutal”, reconhece. Infelizmente, Carla Mendes não consegue dizer o mesmo: “Pago cerca de 110€ de água, perto de 80€ são impostos e taxas. O único apoio que tivemos do município de Alcanena foi a isenção de pagamento para a instalação da esplanada”.

O futuro a curto prazo apresenta-se negro para um sector que emprega centenas de milhares de pessoas: “Acredito que os meses de inverno serão muito difíceis e é preocupante a perspectiva do desemprego e falências no sector. Em Janeiro prevêem-se 100 mil desempregados na restauração”, diz preocupada Carla. “Tenho um negócio familiar e vou aguentando o barco, mas quem tem casas com postos de trabalho e compromissos com o banco está em muito maus lençóis”.

Poderá ler a reportagem completa na edição em papel do Jornal Abarca, disponível nos postos de venda habituais.

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