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19 JUL 2021
OPINIÃO | "O Pecado Mora ao Lado", por Armando Fernandes
Por Jornal Abarca

Em 1955, o genial realizador Billy Wilder brindou o público com filme de matriz romântica no qual o pecado aparece envolto numa rede de tule obrigando a rasgar tão fino e delicado tecido na procura da verdade, das vidas, do oculto escondido na aparência desenvolta e feérica do engano dessas mesmas vidas.

No filme Amar Não é Pecado o realizador demonstra a vacuidade da aparência social numa sociedade fortemente condicionada pelos antagonismos raciais, ao contrário em Liza a Pecadora o refinado estilista Somerset Maughan apresenta-a como sincera num meio de envernizada e hipócrita falta da mesma.

O «pecado mora ao lado» numa época eivada de frutos pecaminosos onde o caroço de Adão é isso mesmo, um caroço em continuado sobe e desce na medida que o frenesim o obriga a engolir em seco pois o supermercado está inundado de frutos estranhos consumidos avidamente nas sociedades de plástico falsamente transparentes. Simula-se a todo o tempo e transe, mastigam-se conversas via telemóvel, as camadas jovens encriptam palavras apunhalando alegremente as linguagens mesmo as mais correntes, as substâncias comestíveis ganham novas e até injuriosas conotações, pecar nos livros antigos descrevia-se como sendo uma oposição a Deus, daí os pecados capitais nesta altura sepultados nos subterrâneos da liberdade de pensarmos pela nossa cabeça, remoendo a consciência quando o comportamento foi leviano ou embrulhado no celofane das meias verdades.

Se olharmos as montras de doçaria ficamos tentados a provar todas as vitualhas a replicarmos o velho anexim o doce nunca amargou, no entanto, a maioria dessa doçaria é proveniente da mesma génese, a massa, os confeitos levam ao elogio do denominado gato por lebre a originar recriminações sem remédio quando o provador tem de lidar com a «nudez forte da verdade» parafraseando o autor de entre outras A Relíquia transformada em camisa de dormir de uma pecadora de profissão.

A sociedade portuguesa vive tempos turbulentos de vertiginosa decomposição da ética e da moral, palavras empregues ao torto e ao direito, na redes sociais os mastins do politicamente correcto, os émulos dos esbirros de Torquemada estão nas suas sete quintas, fugir à tentação de pertencer ao naipe da vociferação de uma delas é acto heróico de pessoas dotadas de coragem e larga experiência no roer o infortúnio até ao tutano não porque acreditem que Deus não dorme, sim porque os anima o desejo de verem os da consciência tranquila escorregarem no embotamento da mesma.

As pessoas têm grandes desilusões quando se iludem muito porque estão imbuídas de boa-fé, o sofrimento advindo da clarabóia que faz luz é intenso só atenuado e posto no álbum das memórias a nunca abrir por via da sua força de querer e ajuda de outros investimentos de afecto individuais ou colectivos, as prateleiras de bibliotecas e livrarias rangem ante o peso dos livros contendo relatos deste tema, se lhe concedermos atenção as confissões alheias explicam acções insólitas e extravagantes de muitos deles.

A pandemia esparramou o crescente aumento das doenças mentais em Portugal, muito se diz e tem escrito sobre o ruir dos nossos quadros mentais, a loucura mansa faz parte de um programa televisivo, muito boa gente não gosta dele, eu procuro vê-lo na justa medida de o entender como alerta dos nossos sentidos, do sentido da medida, do sentido da proporção, do sentido de perceber as ânsias quantas vezes tamaninas dos outros, nada mais.

A sanidade mental dos povos repele os ditadores, os demagogos, os charlatães, e os vendedores de promessas, pois os pagadores rareiam mesmo nos santuários.

O pecado não tem cor ensinou-me um teólogo meu amigo disse-me que o pecado não tem cor mas tal como o vento sente-se podendo derrubar-nos, daí a necessidade de lhe fazer frente de modo consistente na justa medida de o mesmo ser praticado através do referido engano, pois não enjeita nenhum modelo de o levar a efeito debaixo do supino véu das iludências aparudem!

O notável escritor W. Faulkner escreveu a Árvore dos Desejos, mas também escreveu O Som e a Fúria. Ora, cada leitor retire as conclusões que entender relativamente ao pecado. Porém não enverede pelas aparências!

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