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15 AGO 2021
OPINIÃO | "As Crises no Benfica e Outros, o Denominador Comum", por Estêvão de Moura
Por Jornal Abarca

A gestão científica terá passado a ser usada em Portugal, como uma variável empresarial regular, nos inícios dos anos sessenta, na sequência da entrada de Portugal na EFTA (European Free Trade Association) organização de comércio (livre) que associava o Reino Unido a um grupo de países que não tinha querido ou não pudera entrar na CEE (Comunidade Económica Europeia).

Quem trouxe para Portugal a gestão científica foram os grandes grupos económicos da época (então ainda simples grupos e não os conglomerados em que a gestão científica os transformou em poucos anos).

À frente deste movimento, de características irreversíveis e devastadoras para a pacóvia economia portuguesa da época, estava a CUF (Companhia União Fabril). Na sequência deste processo a CUF tornou-se a grande Escola prática da gestão em Portugal. O que foi bom. No entanto, também projectou para o futuro um conjunto de processos de gestão que se viriam a mostrar perniciosos para a evolução da economia portuguesa no futuro.

Há um momento em Portugal em que o Grupo CUF “exportou” gestores para tudo quanto era sítio. Que carregavam a cultura do grupo e procuravam impô-la nas organizações que geriam. Daí o não ser exagero dizer-se que, durante décadas, com todas as consequências que daí adviriam, as empresas portuguesas eram, do ponto de vista da sua cultura de gestão “cufes pequeninas”.

Isso esteve relacionado com a própria natureza do grupo económico, mais privado do que “público” (em sentido anglo-saxónico uma empresa que se diz “pública” é uma empresa que responde perante um conjunto de entidades de controlo e tem o seu capital disperso por um leque muito grande de accionistas –o público).

A tradição da gestão, em Portugal, ao ter as suas raízes nos (pequenos) grandes grupos económicos dos anos sessenta, todos eles de base familiar, com um “patrão” e gestores profissionais que procuravam aplicar os princípios da gestão científica, mas, muitas vezes, condicionados pela presença do “patrão” (que exercia uma função tutelar, baseada numa autoridade cuja origem radicava na própria fundação da organização) ficou delimitada, por décadas, com esta marca da relação patrão-gestor.

Esta ligação dos gestores portugueses, nos primórdios da gestão, aos “donos” das organizações acabaria por marcar até aos nossos dias o marco da gestão em Portugal e dar origem a duas características da “gestão à portuguesa”: (i) o “gestor-patrão” um modelo cuja principal característica é a confusão entre os donos que querem ser gestores e os gestores que se acham donos; e (ii) os tiques de autoritarismo, dos gestores, que os leva a ignorarem a diversidade de intervenientes nos processos de gestão.

A crise do Benfica, do BES, do BPN e muitas outras que têm enchido as manchetes dos jornais e deixados os portugueses siderados, é também uma crise da gestão em Portugal: do modo como esta é ensinada e transmitida; e da incapacidade que teve uma geração de gestores em alterar um padrão que pode ter sido bom para os anos 60 do Séc.- XX e funcionado em ditadura, mas não seria, seguramente, o mais adequado, para tempos mais modernos e complexos gerados pela democracia e por mudanças sociais e socio-laborais profundas.

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