Home »
23 SET 2021
OPINIÃO | "Frangos", por Armando Fernandes
Por Jornal Abarca

Três razões para escrever esta crónica dedicada a esta ave de capoeira de carne branca ou amarelada conforme a alimentação:

1ª Porque passou a ser carne estratégica nas dietas de muitos povos, não só por ser barata de fácil acesso às populações de todo Mundo, mas também por não sofrer de interditos de natureza religiosa ou política;

2ª Porque aproximam-se as eleições autárquicas e, apesar da pandemia, os frangos essenciais no decorrer da campanha a fim de mobilizar adeptos e possíveis votantes;

3ª Porque o Senhor José António Santos das rações Valouro, cognominado Rei dos Frangos passou à categoria de vedeta das redes sociais contra a sua vontade, mas devido à sua condição de acrisolado benfiquista.

Ora o frango, originário da Pérsia, é nos dias de hoje alimento estratégico para mais de um bilião de pessoas, as épocas em que se privilegiava a consumição de frango pois não punham nem chocavam ovos já lá vai, o tempo de escolher galinhas velhas a fim de darem corpo e enxúndia a soberbas canjas destinadas a doentes e mulheres paridas é nos tempos correntes referência do passado não tem passado antigo (anos oitenta do século XX), porque a industrialização alimentar embarateceu os ditos frangos e sucedâneos até ao ponto de referência de os frangos adquirirem o referido conceito de estratégico no planeamento militar dos recursos a entrarem na nossa dieta em caso de conflito.

Esta ave de capoeira esteio primacial das mestras cozinheiras, especialmente das comunidades rurais, resolvia o problema de receber condignamente visitas inopinadas, aumentar a sápida substância de merendas nos dias festivos, farnéis de caminhantes e trabalhadores à jorna em casas de posses, permitir múltipla e diversificadas receitas culinárias, aproveitamento integral de cada uma das peças e, estarem libertas de toda a sorte de interditos. Além disso os ovos (de galinha assim se entende universalmente) só por si constituem matéria-prima fulcral no tocante às criações doceiras de confeitaria e pastelaria, bolos e bolas de centos de recheios (pensemos nas bolas de carne e folares), sem esquecer os doces conventuais e monacais.

Seria estultícia minha tentar seriar toda as utilizações dos ovos (bebidas licorosas e da farmacopeia, bebidas reconfortantes, gelados e sorvetes, etc.), da mesma forma procurar estabelecer um cânone gastronómico diferenciado – pinto, frango, frangão, galito, galaró, galo, capão, franguinha, franga, galinha poedeira, galinha à espera de imolação (dada a falência de ser estéril) em virtude de o Homem comer tudo, mas não comer de tudo e, apesar da plastificação dos produtos ainda é possível apreciar bons ovos rotos, omeletas, pastelões, e ovos estrelados a contento, ainda metermos o dente em frangos e frangas de carniça gulosa, só que… é necessário procurar. Uma coisa é alimentar as pessoas, outra é recordar os tempos dos pica no chão, porque a memória do gosto é fundamental para apuramento dos cinco sentidos.

Ora, o gosto no que tange a galináceos pesponta na História de Portugal seja no referente a foros e dizimas, seja na sua participação nas dietas e banquetes das Cortes, não podendo deixar de referir os jocosos, lembro o desmedido apetite do rei D. João VI por frangos, essenciais no seu cardápio do quotidiano.

A grande «revolução» na banal construção da carta gastronómica dos portugueses sofre profundas alteridades após o 25 de Abril, a liberdade permitiu o consumo de produtos até ali interditos (p. ex., a Coca-Cola), e consolidou a inclusão de produtos e ingredientes provindos das antigas colónias que os dois milhões de soldados foram trazendo para a então Metrópole ao longo do estúpido e sangrento conflito. O hábito de preparar o frango na fórmula de churrasco vem daí, por esse motivo a proliferação de churrasqueiras do Minho à ilha do Corvo.

Avizinha-se a data das eleições autárquicas, a pandemia obriga a cuidados e caldos de galinha, a caça ao voto fica mais picante saboreando frangos devidamente condimentos após serem pincelados com um vibrante gindungo, o problema reside no rescaldo, o piripiri rebenta os lábios dos derrotados. É a vida!

(0) Comentários
Escrever um Comentário
Nome (*)

Email (*) (não será divulgado)

Website

Comentário

Verificação
Autorizo que este comentário seja publicado



Comentários

PUB
crónicas remando
PUB
CONSULTAS ONLINE
Interessa-se pela política local?
Sim
Não
© 2011 Jornal Abarca , todos os direitos reservados | Mapa do site | Quem Somos | Estatuto Editorial | Editora | Ficha Técnica | Desenvolvimento e Design