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23 SET 2021
OPINIÃO | "9 Contas do meu Tesbhi, a deslizar pela Letra V,
Por Conta da tal 91DIVOC que Nunca Mais Faz Greve", por José Alexandre
Por Jornal Abarca

Zero- Ainda trabalho, respiro e espero. Em confinamento, claro. Não por imposição nem auto filantropia - nada a ver com a 91, o coração é que se afanou. O cardiologista terá acertado - nunca digeri bem este Ano do Leão, só vitórias por tudo onde haja bolas e rede. Talvez finalmente o Sporting se tenha lembrado que Mozart fez filigranas geniais, com o singelo título de “Divertimentos”. Pois que o verde e branco se divirta, ganhe, duplique. O médico refez-me a máquina, deve dar para mais uns quilómetros, logo vamos ao desfiar de contas deste meu tesbhi,rosário de sossego dos dedos, ótimo para medir o tempo para pensar. E vou pela ordem com que anotei, sempre com o outro eu, a espreitar no espelho.    

Um.Viagem tardia.Já o disse: a palavra mastiga, o raciocínio é que engole. Ou então, engasga-se. Esta entrada vai por conta de perguntar se já repararam que os medíocres, os corruptos por santa e abnegada devoção, têm sempre mais hipóteses de gozar uma vida longa e aprazível? Os génios, os grandes de espírito, os ótimos levam a chapa de mal nascerem, viverem a correr e zás, certidão de óbito. morrem cedo demais. Para compensar, há também os que nunca mais morrem, mesmo com o almoço a arrefecer na mesa. Mas quando vão, digam-se as missas de corpo vagamente presente e memória ausente, nada de funebríssimos: por dentro, o silêncio do aleluia!; por fora, um sniff da praxe, Portugal está de luto, Portugal está órfão, omanual do protocolo não prevê suspiros de alívio. É o au non revoir, nicht wiedersehen, bye-bye to an overdue goodbye. Como escreveu um amigo “Já não fica em mais nenhum hotel. Mas foneticamente, andou lá perto”. “Andou lá por perto”?Que enigma…Custou-me um bocado, mas percebi e (desculpem) até sorri. Mas o que importa, é a dúvida cruel - se os supra bons, tivessem vivido um bocadinho mais, não teriam também caído na mediocridade e no preço em saldos dos outros?  

Dois.Vimioso, o Sábio. Francisco de Paula de Portugal e Castro, conde do Vimioso, foi um dos homens mais bem-pensantes no tempo de D. Manuel I (1469 – 1521) eD. João III(1503-1557). Sempre ouvia muito mais do que falava, toda a Corte o respeitava, mesmo as perigosas sotainas negras. Numa tarde de verão de 1534, debaixo dos caramanchões da tapada da Ajuda, os fidalgos esforçavam-se por lambujar D. João III, a mostrar o poder absoluto da monarquia, o rei tudo pode por delegação da graça divina (Deo in castelo, solum tibi autem in terram- (Obedece-se) A Deus nas alturas, mas a ti na terra).D. João III notou o silêncio do conde e perguntou-lhe o que pensava. Depois de um momento de reflexão, explicou: “- Senhor, sabemos que cabe a Deus definir passado e futuro. Mas até em coisas muito comezinhas, o rei nada pode fazer. - Como assim, Conde? Eu, rei e Senhor de Portugal, dos Algarves, da Guiné e Índias, estou assim tão limitado? - Infelizmente, assim é, Senhor.O rei ficou algo decepcionado:- Dai-me um exemplo, Conde.E o Conde de Vimioso, a confiar a barba cerrada, doce e suavemente, fulminou: - Meu Senhor, poderá Vossa Majestade ou algum rei, em qualquer parte da Cristandade, intercalar um Domingo entre uma 6ª Feira e um Sábado?” Até hoje, ninguém respondeu. (Ditos Portugueses Dignos de Memória,Sec. XVI. Anot, e coment, Prof. Hermano Saraiva, Pub. Europa-América, 2ª edição, 1991).

Três.Viajem Proverbial. Munique. 2 provérbios bávaros que acabo de caçar:

* “Não é por viajar muito que um burro passa a cavalo de raça. Mas muito menos, uma mula o conseguiria geneticamente. Ou seja, um burro ainda vale alguma coisa…”

* “Viajar como se quer e quando se quer, enche a alma e esvazia o bolso. Mas deixa um sentimento amargo - o turbilhão de pessoas, cores, odores, panoramas, é como furacão. Vai-se embora, rodopia, desaparece antes de nós próprios. Que fomos quem pagou a conta, já agora.É verdade. Ao andar de um lado para o outro, não deixei de sentir na pele, aqui e ali, bons pigmentos asininos. Por outro lado, depois da Capela Sistina, Éfeso, Kyoto, fímbrias do Alaska. iguapés do Amazonas, abafar tudo na poeira das estantes ou num computador armado em Medusa, a sugar-me os bytes, dá uma magistral frustração. Mas voltar, volto. Faz parte da ironia.

Quatro. Vontade de Esperanças. Sabe-se que o homem se alimenta de esperança. Fica bem na fotografia. Um primor. A chatice é que quanto mais os anos avançam, mais e mais pequena fica a fatia desse tipo de fiambre. Ao ponto de ser apenas côdea de pão seco. 

Cinco.Venda de cicuta.Quando há escândalo do tamanho do Everest, em Portugal acaba sempre por ser só uma duna no Guincho. O que vale é o dogma definitivo, repetido, furioso, de mãos-feitas-pés de quem seja ex-PM. Ambicioso e albicoiso. Um exemplo de como um mestrado entre plágios e ghostwriting, derruba a pastelaria toda de Belém. Que até já tinha a produção toda encomendada e paga. Como de costume.

Seis. Ver sem Pupilas. Comboio, Cascais para Lisboa. A viagem curta, mas o diálogo entre os 3 homens, mesmo a meu lado, está animado. Para começar, não estão propriamente de acordo:  -Olha, por mim, tanto se me dá, como deu…  -Nem penses! Olha bem o que estás a dizer…-Olhem, nem me admira. Já sabia que vocês os dois, iam armar-se em parvos!  Uma pena, saíram em Algés. A gesticular, feitos napolitanos, gli immortali eroi del mare,mas que não passam de serventia de arame. Com tantos olhos e olhares, nenhum viu, nem estava muito interessado em ver. O habitual.

Sete. Viajem ao Inevitável. Florença, por mim, seria a capital da Europa. Sempre que aqui venho, penso o mesmo - não é que não veja o que até já me é conhecido, um portento inesgotável. O que me chateia é saber que por esta mesma altura, andávamos ainda de velame contra o vento, com correntes e contramarés com escorbuto, a oferecer uma sardinhada ao Prestes João, que nunca existiu. O nosso momento, não foi o florentino, renascentista, nem mesmo impressionista. Verdade, verdadinha, somos europeus atrasados. E cabe perguntar - como portugueses, afinal somos viajantes ou turistas? O viajante é como águia solitária, mal chega, investiga, procura, pergunta, já fez um plano do que quer ver e saber, nada de acompanhantes. Possivelmente emigra.  Os turistas…, bem esses…, é ver a Assembleia da República. Um cíclico bando de pardais saltita de ramo em ramo, sempre o programa padrão com guia incluído, ninguém fora da ramaria, na falta de capacidade em entender, tiram-se selfies e venham mais 4 anos. Alguém disse que o viajante perante o que vale a pena pára, vê e volta; o turista vê, tira a foto a correr e ilude-se a pensar que depois mostra aos vizinhos ou compra o livro no museu. O que interessa é mostrar que lá esteve. Resumo de Saint-Exupery- “o verdadeiro turista,  é como um  pássaro só para ramos”.  Substituam “turista” por “político”, que troncos não faltam. 

Oito.Vento de penteio.Monte da Foz - Benavente. E ainda dizem que o vento não se vê? Olhem-me para esta lezíria, a campinar entre o Sorraia e o Tejo, a ondular arroz e cevada em ondas suaves. Faltam-me o Malhoa, Carlos Reise Roque Gameiro. Mas como se afagassem o cabelo de um bebé meio adormecido.

Nove.Vale de Correio em ABC.I.Sim, o Homem pensa. Mas a Mulher é que o observa. Em detalhe. E quase sempre antecipa o que lhe vai a ele, na cabeça. É lei antiga - mudam as saias, a intuição é a mesma. Passa da avó, para a mãe, irmã, mulher, filha, nora. E acaba na viúva (mas antes desta o ser, é claro).

II. B. Não a conheço, nunca a vi, não divulgo o nome. Mas escreve também para abarca e muito bem. Excelente. Ao longo destes anos de a ler, parece ser pessoa tão discreta, tão natural, que não acredito deixe de ser solitária. Na base, do “ainda bem”. É que usa a rara alquimia de prosa de parágrafos curtos, adjetivos exatos, imagens de hoje. Muito bem, colega da cimitarra afiada do bem cronicar. Pode mandar um Scherzo con Brio Sostenuto?

III. Maria Helena Vieira da Silva.Poucos artistas, tal como esta senhora, me fazem lembrar tanto o comentário de Paul Klee– “A Arte não reproduz o visível. Na verdade, só quando torna visível é que revela a sua essência(Creative Credo, 1920)

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