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19 OCT 2021
CRÓNICA | "A vergonha da política portuguesa", por Paula T. Gonçalves
Por Jornal Abarca

Quem vos escreve hoje é alguém que talvez para vós seja difícil de conceber: uma mulher apartidária que observa de longe esse Portugal dos Pequeninos.

Sempre adorei estudar política, analisar discursos políticos, confrontar ideias, entender propósitos de leis das nações e eis que chego à minha idade madura e o meu desgosto é maior do que profundo. Continuo a ver essas politiquices de café, onde pessoas de partidos distintos são incapazes de se sentarem naturalmente e de discutirem ideias diferentes sem iniciarem sessões de insultos, como acontece na minha aldeia natal, onde pessoas sem habilitações nenhumas se lançam a candidatos porque precisam de um emprego e até acham que o cargo político seria algo de mais valor na sua vida social e profissional. Pessoas que acreditam que ser popular é mais importante do que ser capaz de ajudar uma comunidade a crescer e a evoluir.

Desculpem que vos diga, se querem ter um emprego melhor ou vida melhor devem estudar, devem trabalhar e especializar-vos numa área. Isto também se aplica à política, não adianta nada às feministas de Amarante continuarem a bater pé na rua se as mulheres locais continuarem a aceitar receber menos do que os homens nas vindimas ou em outro qualquer salário. As pessoas devem entender que todos temos um pouco de políticos e a forma mesmo como vivemos a política mostra o que pensamos e o que somos.

Quando digo que sou apartidária, não significa que seja apolítica, muito pelo contrário. Como disse antes adoro política. Por isso gostava de esclarecer alguns pontos com o leitor.

A política para ser eficaz deve ser neutral: isso de chamar amigos, namorados e familiares para encabeçar listas cheira a corrupção e má gestão de recursos humanos. Há alguns anos pensei votar socialista, não porque sou socialista e não porque era amiga de uma das representantes desse grupo partidário, mas porque lhe reconhecia capacidades como empresária local e via nele grandes capacidades por fomentar o artesanato da minha região. A partir daí uma confusão foi gerada na cabeça das pessoas que me eram mais próximas e sem querer nem porquê familiares de outros membros desse grupo decidiram «pedir o voto» dos meus pais como um mendigo pede esmola.

Confesso que o dissabor político desse momento me desgostou, mas ainda havia mais… decidiram pedir aos meus pais usarem a nossa casa como sede partidária e os meus pais claro declinaram… e mais uma vez a confusão foi gerada porque na cabeça destas pessoas os meus pais deveriam ser convenientes com o voto, ou com as intenções de voto… Acontece que os meus pais não alugaram a casa a ninguém: nem democratas, socialistas, bloco de esquerda, ou novo partido que fosse para casamentos ou batizados! A ninguém: o motivo encoberto foi que em anos idos, muitas pessoas daquela região danificaram o espaço e nunca pagaram pelos prejuízos. Tive ainda o desprazer de ouvir uma conhecida que frequentou o lugar dizer a papo cheio que o restaurante dos meus pais tinha declinado devido a uma má gestão, se essa pessoa fosse lavar a boca antes de falar seria uma graça mas sei que a consciência neste momento que escrevo e estou a estou a ser lida deve pesar a «gente de muito boa estirpe».

Sobre vizinhas que se lançam na política e que nas horas mortas se poem à janela para coscuvilhar a vida amorosa dos outros…posso-vos dizer que essa não é propriamente a conduta que espero ver em mulheres jovens que ingressam no mundo da política. Nos cartazes são bonitas na vida real vivem uma vida de beatas.

Este ano também me fizeram passar um momento de dissabor maior: membros de um outro partido pediram-me para eu escrever umas coisinhas porque até escrevo bem. AMIGOS! Entendam de uma vez por todas: se estais dispostos a ocupar uma função política ou pública o mínimo que vos é pedido é que vos seja possível comunicar foneticamente ou por escrito as vossas mensagens! O Português é o vosso instrumento de trabalho e é a vossa língua materna.

Desculpem lá se vos azedo com as minhas palavras. A vossa inexperiência e esse lado saloio «do vamos fazer uma coisa melhor» sem apresentarem projectos concretos e com números é agonizante. Isto também se aplica aos de bloco de esquerda que muitas vezes gritam «Vamos legalizar essa merda» - seria conveniente explicar que merda é essa que querem legalizar, as smart shops não são iguais em toda a europa e diferentes políticas são aplicadas em estados membros. Querem legalizar o consumo da canábis através da produção dessas plantas por produtores locais? Querem fumar um charro vindo do nada ou de forma incógnita sem serem interpelados pela polícia? Querem o quê afinal?

Bem-haja e desculpem muito por eu ser política, mas desculpem principalmente por eu não ser dependente «dum tacho» e me expressar livremente.

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