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15 NOV 2021
EDITORIAL | "Partida", por Margarida Trincão
Por Jornal Abarca

Desde que sou directora de abarca vi partir três dos seus colaboradores. Primeiro Silvino Nunes, anos mais tarde António Bento e há dias o professor Alcínio Serras. Sabia que não andava bem, de há tempos a esta parte todos os meses havia um novo problema. Nos finais de setembro disse-me que, para além dos problemas respiratórios que o afectavam, tinha partido um braço. Em meados de outubro recebi um mail da filha informando-me que o professor estava hospitalizado devido a problemas respiratórios e que não poderia continuar a assegurar a sua página de charadismo. Dias depois o professor partia.

Nunca sei o que dizer nestas alturas. Sinto a dor de todos os seus familiares e amigos. A saudade pela ausência. Os telefonemas que já não farei e a voz calma, por vezes entrecortada pela respiração, de que os passatempos estavam feitos: “é só a minha filha passar a computador”.

Do professor Alcínio Serras, o Aldimas, guardo as melhores recordações. Nunca foi meu professor, mas teve a enorme paciência de um dia, numa entrevista que republicamos nesta edição, me dar uma lição sobre charadas, o que eram apocopadas, aferéticas, paragógicas ou protéticas. Confesso que não retive o mecanismo de todo aquele jogo de palavras que faziam parte integrante de “Grito”.

Novembro começa com um feriado, o do bem disposto dia de Todos Santos, ou do bolinho. Tempo frio que convida a comidas açucaradas e às apetitosas broas que na terra onde nasci e vivo, Lapas, são afamadas. Para logo depois, seguindo o calendário, surgir o dia de finados. Muitas vezes, aproveitando o feriado, é no dia 1 que se cuidam e enfeitam as campas e jazigos.

Não sou visitante de cemitérios. Os meus que já partiram continuam nos sítios onde viveram e nesses espaços com eles convivo diariamente. São os seus ensinamentos e carinhos, os jeitos de andar ou de dizerem bom dia que retenho e quero reter na memória. A vida vive-se em vida e se a ausência corrói, trazer à lembrança as vivências atenua a dor e acentua a presença.

Não é alegre este texto. Nem todos o são. Também não o é a história de Isidro Esteves. Foi dura a vida deste homem que Manuel Fernandes Vicente transcreve em entrevista neste número de abarca, mas é uma lição de vida pela sua generosidade e força. Ex-paraquedista, Isidro Esteves continua a seguir religiosamente um dos lemas desta força militar e afirma: “no combate podemos ficar lá todos, mas ninguém fica abandonado”.

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