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20 DEZ 2021
EDITORIAL | "Está Quase", por Margarida Trincão
Por Jornal Abarca

Ainda ontem era janeiro e sem darmos por isso a Terra já cumpriu a sua rota em torno do astro rei e já lá chegámos outra vez! O tempo esse ser misterioso será que continua a ter a mesma duração? Que os dias continuam a ter 24 horas? Cada hora 60 minutos e cada um deles 60 segundos? Provavelmente sim. O problema estará no meu mecanismo que de suíço nada tem. Sem que desse conta, entrou em aceleração e não há quem lhe retenha a velocidade…

Mas antes de janeiro e num ápice há outra festa. A época em que se quer que a negritude se transforme em luz, que o de melhor que cada tem em si se manifeste, que os amigos e familiares se juntem… Pois é. É Natal.

O calendário, a que obedecem essas máquinas poderosas e arrogantes marcam o tempo, assim o dita. É tudo ilusoriamente igual. Há luzes a piscar nas ruas… há pais natais em esforço titânico a subir nas varandas… há panos com a imagem estampada do Menino a embelezar as fachadas… Há fritos e bacalhau… Há prendas de laçarotes vistosos… Árvores que produzem bolas coloridas… Há presépios de todos os tamanhos e feitios… Mas onde está o presépio construído sobre o comprido tabuleiro de secar os figos e o seu enorme deserto, com dunas e tudo, que os tais reis do Oriente atravessavam, transportados nos pachorrentos camelos, até à cabana escondida no sopé da montanha, à entrada da cidade? Onde está a magia de apanhar o musgo e os rebentos de piteiras? Onde estão os que se sentavam, bem juntinhos para caberem todos, em torno da comprida mesa?

O relógio, esse marcador implacável, continua a rodar. Para ele pouco importa quem está ou partiu. Se o Menino nasceu ou morreu. Se a festa é só mais um hábito, como ir ao mercado e comprar os legumes na mesma banca, ou parar o carro de marcha atrás para estar sempre pronto a arrancar.

É Natal e espera-se, porque se espera sempre qualquer coisa, que o melhor de cada um se manifeste. Que o sofrimento de quem está perto mereça mais atenção… E que em casa, as luzes da árvore tenham um brilho novo, que os que restam estejam bem. Que este ano volte a repetir-se “Por acaso ou milagre, aconteceu / Que, num burrinho pela areia fora, / Fugiu / Daquelas mãos de sangue um pequenito / Que o vivo sol da vida acarinhou; / E bastou / Esse palmo de sonho / Para encher este mundo de alegria; / Para crescer, ser Deus; / E meter no inferno o tal das tranças, / Só porque ele não gostava de crianças” (Miguel Torga, in ‘Antologia Poética’)

Voltaremos, como habitualmente, em fevereiro. Até lá Bom Natal e Bom 2022.

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