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16 MAR 2022
OPINIÃO | "O Tempo e a Sua Relatividade", por Humberto Lopes
Por Jornal Abarca

Nos finais da década de quarenta do século passado construiu-se a Barragem de Belver para a produção de energia eléctrica que, em grande parte, dizia-se, era para abastecer a fábrica União Fabril do Azoto, UFA, situada em Alferrarede. Esta fábrica produzia Hidrogénio, por electrólise da água, e Azoto captado da atmosfera que se destinavam à produção de adubos.

A UFA já foi encerrada há bastantes anos, outros processos foram descobertos e implementados para a captura destes dois elementos da natureza para a produção de adubos. No entanto, a Barragem de Belver lá continua a produzir a energia eléctrica que tanta falta faz às famílias e às empresas.

Um ou dois anos depois, primeiros anos da década de cinquenta, foi a vez da construção da Barragem do Castelo de Bode também para a produção de energia eléctrica. Mais tarde esta Barragem, dado o volume de água que a sua albufeira pode armazenar, foi e está a ser utilizada para abastecimento público de água potável. Neste ano e dada a escassez de chuva, o volume da água armazenada nesta Barragem foi diminuindo, pelo que deixou de produzir energia eléctrica, supomos que temporariamente, para manter reservas suficientes para o abastecimento de água potável a mais de dois milhões de pessoas.

Estes dois empreendimentos, enormes para a época em que foram construídos, com cerca de setenta anos de serviço continuam activos a servir as populações com produção de energia eléctrica e com o abastecimento público de água.

Há pouco mais de trinta anos iniciou-se a construção da Central Termoeléctrica do Pego para a produção de energia eléctrica. Vinte e oito anos depois de entrar em funcionamento está desactivada e nada produz.

Como é possível que empreendimentos de há setenta anos se mantenham activos e de “boa saúde”, enquanto outros com trinta anos de serviço são desactivados e, possivelmente, virão a ser desmantelados?!

Ao que foi transmitido, acerca das razões de tal decisão, a questão estará nos elevados níveis de dióxido de carbono produzido pela Central de Pego por queimar carvão, enquanto as barragens de Belver a Castelo do Bode não emitem qualquer produto nocivo ao ambiente.

Sem dúvida que tal razão é um facto, mas há trinta anos não se pensou nisso? Ou pensou-se e permitiu-se o enorme investimento por a sua amortização e geração de dividendos para os seus accionistas fosse de curto prazo? Quem pagou esta enorme factura?

Como em tudo o mais que é necessário à vida, é o consumidor final que tudo paga. Paga directamente pela energia consumida e paga indirectamente pelos impostos cobrados pelo Estado que financia estes empreendimentos através de protocolos que permitem que os investidores arrisquem o seu capital nestes investimentos. Caso contrário não há investimento!

Mas não só.

Como sabemos, os despedimentos provocados por esta decisão são da ordem das centenas que, muito justamente, estão a ser apoiados pelo Estado com o dinheiro dos contribuintes, sejam eles cidadãos portugueses ou dos outros países da União Europeia!

Duplamente penalizados? Talvez!

Segundo consta, para compensar a falta da energia eléctrica que a Central de Pego produzia (a queimar carvão) passou a importar-se esta energia de países que a produzem em excesso. Mas, também segundo consta, esta energia importada está a ser produzida por centrais termoeléctricas alimentadas a carvão!

Será que estas resolveram o problema da libertação para a atmosfera do dióxido de carbono?

Não, não resolveram. Mas, tal como há alguns anos, continuamos a pretender ser o “bom aluno” perante os outros!

Conclusão – o tempo de vida de um destes empreendimentos é relativo: uns, ao fim de setenta anos, estão activos, outros, ao fim de trinta, vão para a sucata!

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