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20 ABR 2022
OPINIÃO | "Abrantes: Duas Visões", por Estêvão de Moura
Por Jornal Abarca

Há cerca de quinze dias um abrantino (dos genuínos: escola primária nos Quinchosos, Liceu de Abrantes, muita rua em liberdade, freguesia de São João, Pelicano, Muro da Vergonha, etc.) a viver fora, mas ainda com interesses na cidade, designadamente a casa de família e a espaços uma ligação mais intensa à cidade transformava em pó as lideranças públicas antigas e actuais por aquilo que não tinham feito pela cidade.

E dizia, peremptório, aquilo que já ouvi de muita gente: “-Abrantes está morta; o Centro Histórico é uma desgraça!...”. Não é que eu não tenha já ouvido isto vezes sem conta; indistintamente a abrantinos a viver na cidade (de onde nunca sairam) e de abrantinos a viver fora da cidade (onde não pensam voltar).

O diálogo com o referido abrantino prosseguiu durante um longo período e o tom e  a crítica nunca abrandaram; antes pelo contrário. Finalizei a nossa conversa a pensar: “-Isto há mesmo duas Abrantes: a dos que ficaram e a dos que se foram! Duas visões de e para a cidade!”. Será mesmo assim?

No meu caso, no entanto, nunca fui tão longe na apreciação do estado das coisas em Abrantes. Embora reconheça que houve muito trabalho que não foi feito ou muito trabalho mal feito ao longo de décadas –se não a cidade não estava como está.

Embora em muitas das crónicas que escrevi aqui n’abarca tenha discutido a Abrantes actual quase sempre em tom crítico ou muito crítico, acho que a questão é muito complexa e mereceria, para lá da paixão, alguma racionalidade na sua abordagem.

O facto de viver actualmente perto de Portalegre, cidade onde vou com muita frequência e esta se encontrar num estado absolutamente lastimavel (bem pior do que Abrantes) talvez ajude a uma visão menos ácida do estado das coisas em Abrantes. Em Portalegre para um resultado ainda pior é a mesma coisa: enquanto a cidade definha a recusa das lideranças públicas locais e dos interesses privados instalados em aceitar discutir outros caminhos para inverter a situação e deixar fugir de forma sistemática oportunidades de desenvolvimento são o estado comum.

E a situação não fica por aqui. Se virmos muitas outras cidades e vilas do interior a situação é a mesma: míopia territorial das lideranças públicas locais; vencimento de interesses difusos; opções de desenvolviemneto marcadas pela opacidade embora escudadas em mecanismos legais; ostracização de quem ousa ter opinião. Tudo menos o reflexto de uma vida democrática saudável e o exercício de um direito de cidadania efectivo.

Depois de ouvir e ler, tantas vezes, críticas tão desabridas e demolidores sobre o que se passa e não passa em Abrantes sou forçado a tirar uma conclusão: há duas visões para a cidade (e concelho): uma, a dos abrantinos que ficaram a viver na cidade; a outra a dos abrantinos que deixaram a cidade (a diáspora abrantina, que já abordei aqui em várias crónicas). Será uma visão melhor do que a outra?

Têm os abrantinos que se foram legitimidade para ser tão cáusticos sobre a cidade e as opções dos que ficaram? Depois de não viverem na cidade durante décadas ainda lhes assiste o “direito de intervenção” nos assuntos locais?

Todavia, não seria melhor que os abrantinos que ficaram a residir na cidade tivessem a humildade de reconhecer que falharam na sua obrigação de transmitir às geraões que se lhes seguiram uma cidade melhor? O que não aconteceu, mas devia ter acontecido! Ou simplemente admitir que o caminho seguido não foi o melhor e que podia ter sido outro?

Não vejo modo de estas duas visões da cidade e do seu território alguma vez convergirem... A uns falta faltará“mundo”, como dizia o abrantino do início desta crónia? Terão os outros, para as circunstâncias, “mundo” a mais?

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