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20 JUN 2022
OPINIÃO | "O País dos 'Reis na Barriga'", por Estêvão de Moura
Por Jornal Abarca

Durante anos, quando se tratava de explicar o comportamento de muitos portugueses em conexto relacional com outras pessoas achei que a forma mais adequada de explicar esses comportamentos era através da metáfora do “chicoespertismo”.

Socorria-me até de um texto do filósofo José Gil em que este considerava esta manifestação tão comum aos portugueses como uma das principais causas do atraso português em muitas áreas.

Embora, de um modo geral, continue a concordar com o filósofo José Gil experiências pessoais recentes levam-me a começar a considerar que esta ideia do chicoespertismo pode estar em declínio face a outros comportamentos esquisitos que se obsevam amiúde.

Esta evolução também está centrada numa realidade que apenas indirectamente está exposta na tese de José Gil: o chicoespertismo é para o filósofo sobretudo uma manifestação do foro individual – dos portugueses. Nada é explicitado, contudo, sobre o que se passa no mundo das organizações de trabalho, públicas e sociais que constituem na actualidade o grande agregador social – mais importante até do que a comunidade.

Ora, o que eu tenho vindo a perceber é que os portugueses, quando ancorados numa organização, seja qual for a sua natureza, têm comportamentos cada vez mais irracionais. Ao ponto de cada vez parecer mais que se consideram donos da posição que ocupam e podem decidir o que lhes apetecer sem dar cavaco a ninguém,

Vem isto a propósito da nova realidade que foi criada com as comunicações digitais (vulga as mensagens de correio electrónico ou numa aproximação afrancesada, “mensagens de correiel”).

Não haverá ninguém que use com regularidade um sistema de mensagens electrónicas que não tenha vivido já a exeriência de ter enviado uma mensagem para uma qualquer orgnização, com a pressa que integra os quadros dessa organização bem identificada e nunca ter recebido resposta. Mesmo depois de várias insistências.

Creio que existem mesmo organizações que se especializaram nesse tipo de comportamento. Organizações que permitem que pessoas que aí trabalham desprezem as mensagens de correio electrónico que recebem, com assuntos importantes e que não respondem (quando confrontadas com isso, por outros meios de comunicação argumentam que a mensagem foi para o spam, que a caixa de correio estava cheia, que o ficheiro era demasiado grande, que a origem do envio era suspeita, etc,).

Algumas pessoas, muitas, fazem deste comportamento uma prática quotidiana. Ao ponto de podermos afirmar com muita segurança que estamos perante uma tendência muito semelhante ao chicoespertismo. Só que neste caso, porque ancorados numa organização, poderíamos dizer “sentados na cadeira do poder” o chicoespertismo é insuficiente para explicar o seu comportamento.

Estamos inclinados a considerar que a situação se aproxima mais daquilo que se convencionou designar como “ter o rei na barriga”. Estou convicto de que Portugal está a andar para trás com estas pessoas, que se julgam donas do resultado dos seus postos de trabalho, com a conivência e em alguns casos, permissão das organizações, com quem têm contrato.

É um mistério porque é que as organizações se mostram indiferentes a este tipo de comportamentos, que mina a confiança entre as pessoas e prejudica o seu funcionamento e do país. Ou será que nos estamos a transformar no país dos “reis na bariga”?

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