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23 AGO 2022
EDITORIAL | "(Re)começar", por Margarida Trincão
Por Jornal Abarca

O que será ser só
Quando outro dia amanhecer?
Será recomeçar?
Será ser livre sem querer?
(Chico Buarque)

 

Todos os dias são um recomeço. Todas as edições são um recomeço. O recomeço de um novo número, de novas histórias, de novas opiniões, de novas reflexões.

Vidas que mudaram de rumo. Grandes ou pequenos acontecimentos que marcaram para sempre os seus protagonistas. E cada um de nós tem um saber e um sentir singular. Pode considerar a sua existência profundamente banal, mas são os pequenos nadas que marcam a diferença. Que fazem com que o medo de cobras traga ensinamentos únicos ou que graves acidentes abram mundos até então desconhecidos. Do manuseamento e do saber a composição de medicamentos nasce literatura.

Importante é recomeçar: “Recomeça... se puderes, sem angústia e sem pressa e os passos que deres, nesse caminho duro do futuro, dá-os em liberdade, enquanto não alcances não descanses, de nenhum fruto queiras só metade”.(Miguel Torga).

Quando a manhã surge e antes que um qualquer galo faça ouvir o seu canto já despertei. Deixei esse mundo do sono e da ausência e tenho a esperança de desaprender o que aprendi para poder recomeçar uma nova aprendizagem.

Os meus olhos, os olhos de todos nós, veem todos os dias novos mundos e, par tal não é necessário sair dos locais onde habitamos, onde vivemos. Basta abrir a janela e pensar que na véspera a pequena flor era mais pequena, as suas cores menos vivas. Os pássaros fazem novas sinfonias. Nasceram e morreram milhares de seres. A existência muda a cada passo.

Olhar e ver sem qualquer objectivo. Não é a meta que mobiliza mas o interminável caminho a trilhar. Pensar. Essa prerrogativa dos humanos abre mundos desconhecidos. É bom pensar. É bom estar sozinho. É bom olhar sem ver, o que se vê não são os olhos que transmitem.

Gosto de estar comigo e com os meus muitos migos. São eles o meu universo e me conduzem à liberdade de ver, de pensar. Na parede um quadro com a letra bordada do nome de família. No braço do sofá a gata branca dorme serenamente. O cão grande espreita à janela e sente o vento fresco que lhe acaricia a focinho.

Há plantas por todo o lado. Verdes e viçosas no seu interrupto e suave crescimento.

Que mais quero para recomeçar? Que mais precisamos, nós os privilegiados, para recomeçar e dar passos em liberdade?

Liberdade. Liberdade e o poema de Jorge de Sena (1919-1978) nunca por demais repetido: “Não hei-de morrer sem saber/ qual a cor da liberdade. // Eu não posso senão ser / desta terra em que nasci. / Embora ao mundo pertença / e sempre a verdade vença, / quel será ser livre aqui, / não hei-de morrer sem saber. // Trocaram tudo em maldade, / é quase um crime viver./ Mas, embora escondam tudo / e me queira cego e mudo, / não hei-de morrer sem saber / qual a cor da liberdade.”

Vá de férias (não coma bacalhau à Brás) e seja livre. No mínimo liberte-se do relógio para um novo recomeço.

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