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01 FEV 2008
CEPTICISMO E DESCONFIANÇA
Por MÁRIO RUI FONSECA

 

Para alguns a barragem de Almourol não será construída, mas outros desconfiam que o projecto não vá mesmo por diante.

 

Foi com indiferença e até com algum desdém que as gentes de Rio de Moinhos acolheram as palavras do ministro Nunes Correia. O governante afirmou na segunda-feira, 28 de Janeiro, não ver motivos para não construir as dez barragens previstas, entre elas a de Almourol.

A anunciada construção da barragem no Tejo à cota 31, na zona de Constância, terá os principais impactos nas freguesias ribeirinhas de Rio de Moinhos, Rossio ao Sul do Tejo e Tramagal, todas no concelho de Abrantes, submergindo várias estradas, mais de mil hectares de terras agrícolas, a linha do caminho-de-ferro, infra-estruturas de saneamento e, teme-se, as habitações situadas nas zonas mais baixas das aldeias.

Fernando Seabra, 38 anos, morador na aldeia ribeirinha, não acredita que o projecto vá para a frente: “Se isso fosse verdade metade de Rio de Moinhos ficava debaixo de água. Como é que isso podia ser?”, questiona, duvidando da veracidade da intenção.

José Oliveira, 78 anos, vive na zona central da freguesia e não tem dúvida em afirma que a construção de uma barragem à cota 31 “não passa pela cabeça de ninguém” até porque “seria uma coisa doida de investimento”.
“Calejado” pela experiência das cheias vividas ciclicamente em Rio de Moinhos, José Oliveira testemunha o que poderia acontecer com uma fotografia da cheia de 1978, ocasião em que teve de refugiar-se no primeiro andar da sua habitação.

“Tive de fugir lá para cima e a cheia nesse ano chegou só à cota 29”.

Além do descrédito tem outro “consolo”: “Não acredito que façam essa barragem mas, mesmo a ser verdade, já não será no meu tempo”.

Posição diferente tem Carlos Neves, 56 anos. Não tem tantas certezas quanto à não construção da barragem. Diz mesmo ter um “palpite” de que vai haver barragem, porque “se eles a quiserem fazer, fazem-na mesmo”.

A opinião deste habitante de Rio de Moinhos é de que as pessoas “têm mais dúvidas do que certezas” sobre o que se quer fazer o que “dá azo às mais variadas conjecturas”. E justifica: “As pessoas não acreditam porque não foram preparadas para um projecto que é apresentado como se fosse um facto consumado”.

O presidente da Junta de Freguesia de Rio de Moinhos lembrou que “todo o sistema de saneamento e abastecimento de água, bem como a zona baixa da aldeia, terrenos agrícolas e a estrada nacional 3 ficariam alagados”.

Rui André disse ser “frontalmente contra” a barragem porque “coloca em risco 40 por cento do que é hoje a aldeia”.
Em Rossio ao Sul do Tejo, o presidente da Junta de Freguesia local acolheu as declarações do Ministro Nunes Correia com “forte apreensão”.

“Não admito sequer pensar nessa ideia porque construir aqui uma barragem à cota 31 significaria convivermos todos os dias com uma cheia de média dimensão”.

Para Luís Valamatos “se o Ministro recuar nesta intenção estará a dar uma prova da sua inteligência”.

O presidente da Câmara de Abrantes acredita que a barragem de Almourol “vai acabar por ser excluída” do Plano Energético por ser a “mais complicada de fazer”.

Em sua opinião, “mesmo com boas soluções que assegurem a qualidade de vida das pessoas, o dinheiro não resolve tudo e há impactos que não se pagam”.

“Compreendemos as fundamentações de interesse nacional mas existem muitos outros sítios onde se podem construir barragens”, considerou Nelson de Carvalho.

 

NELSON CARVALHO NÃO ESTEVE PRESENTE

 

O presidente da Câmara de Abrantes, Nelson Carvalho, desmente categoricamente que tenha estado na reunião a que se refere António Mendes: “Não estive nessa reunião. Na reunião em que participei no INAG, havia muito mais gente para além dos presidentes de Câmara”.

Nelson Carvalho reafirma a posição pública tomada pela Câmara e Assembleia municipais abrantinas, “que está escrita”. Diz ainda que Abrantes “está contra esta barragem” e acrescenta: “Abrantes e não foi o seu presidente, mas sim a Câmara e a Assembleia, assumiram uma posição negativa relativamente à construção da Barragem, nos moldes anunciados”.

 

MENDES A FAVOR

 

Afastada a hipótese de a barragem de Almourol ser construída nas proximidades do castelo, fixando a sua localização na zona de Montalvo, no limite do concelho de Abrantes, António Mendes, presidente da Câmara de Constância, afirma que “num País normal a barragem seria construída”.

Segundo disse, “confrontados em determinada altura se a barragem ficaria no Tejo ou no Douro, os autarcas de Constância, Abrantes, Chamusca, Vila Nova da Barquinha e Mação foram unânimes em dizer que era aqui que ela deveria ficar. O Ministro foi coerente com o trabalho desenvolvido até aqui e esta barragem vai ser boa para a região e para o País” considerou.

António Mendes acrescentou ainda que foi claramente proposto a localização da barragem 1,2 quilómetros a montante do inicialmente projectado (Almourol), ou seja na zona da Fatacinha (Montalvo). E que todos os autarcas concordaram.

Em Outubro último, quando o Plano Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico (PNBEPH) indicava a zona de Almourol, António Mendes e todo o executivo camarário aprovaram um documento em que declararam “o seu total desacordo com a proposta” (acta da reunião camarária de 30 de Outubro de 2007). Ressalvando, porém, que “o Município poderá reconsiderar a sua posição face a nova proposta que seja apresentada”.

Houve uma nova proposta, recuando a barragem para Montalvo, o que deixa a vila de Constância a salvo de ficar emparedada, ou em contrapartida de ver submergir equipamentos turísticos, recentemente construídos, habitações e “uma significativa área do tecido urbano histórico”.

No entanto, na acta de 30 de Outubro, a câmara de Constância referiu também: “Importará proceder a outras análises para montante, como é o caso das consequências nas povoações ribeirinhas existentes (Rio de Moinhos, Rossio ao Sul do Tejo, Alferrarede, etc) e em obras recentemente construídas e inauguradas, como é o caso do açude insuflável de Abrantes”.

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