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01 JUN 2008
FERNANDO MARQUES: O BARCO É O SEU TRANSPORTE
Por SÓNIA PACHECO

 

O barco continua a ser o seu meio de transporte de todos os dias. Há 51 anos que Fernando Marques atravessa o Tejo entre Rio de Moinhos, onde reside, e Tramagal, onde trabalha. 

 

Mudam-se os tempos, mas mantêm-se as vontades, o ser e a confiança. O barco continua a ser um meio de transporte e o Tejo é ainda uma via de comunicação. Aos 66 anos, Fernando Marques continua a atravessar o rio entre Rio de Moinhos, onde reside, e Tramagal, onde trabalha. Em tempos, centenas de pessoas o faziam, hoje é o único.

Por volta das sete e meia da manhã embarca em Rio de Moinhos até à outra margem. À tarde, faz novamente a travessia às 17 horas. Não sabe dizer quanto tempo demora, mas sabe que prefere ir de barco. “Para ir de carro a volta é muito grande”. O ritual repete-se todos os dias, faça chuva ou faça sol. E mesmo que chova muito o guarda-chuva não se abre. “Temos que aceitar a água que cai. A sombrinha não se pode abrir por causa do vento e é difícil remar e segurar numa sombrinha ao mesmo tempo”.

A sua primeira travessia foi a 31 de Janeiro de 1957 quando foi trabalhar para a Metalúrgica Duarte Ferreira. Na altura, centenas de pessoas atravessavam o Tejo. A empresa tinha uma barca que levava 72 pessoas, outra que levava 68, mais quatro barcos que levavam entre 12 a 18 pessoas e mais um ou dois barcos pequenos. O barqueiro, conhecido como o Joaquim da Barca, tinha também quatro ou cinco barcos para passar as pessoas.

“Antigamente era mais difícil, mas como era muita gente encostávamo-nos aos mais velhos. Agora é mais fácil porque já tenho um bocado de traquejo e já não há as cheias que havia antigamente”. As cheias inundavam as margens e era um “pouco assustador” atravessar o rio. Quando o Tejo estava cheio a própria administração da MDF não permitia que passassem numa zona que chamavam a Quinta da Barca, onde estava a bomba que puxava a água para a quinta e também para a metalúrgica. “Por duas vezes tive que dar a volta a pé por Tramagal direito ao Rossio e passar por Abrantes para vir para casa e para ir trabalhar. O temporal era muito, o Tejo ia muito cheio e as pessoas tinham medo, embora houvesse indivíduos com mais arrojo que atravessavam. Mas eram poucos”.

Hoje, Fernando Marques é o único a cumprir a tradição, embora, às vezes, leve consigo um colega de Abrançalha. Depois da Metalúrgica Duarte Ferreira encerrar, comprou um barco. Chama-se Benfica. Tinha chegado à idade da reforma, mas como não é “pessoa de andar por aí” aceitou um convite para trabalhar na Futrifer.

Já não há cheias como antes, mas quando a água é pouca o barco encalha em cima das pedras e, por vezes, é necessário atirar-se à água para conseguir desencalhar o barco. Fernando Marques afirma que nunca teve medo de atravessar o rio. Aliás, quando estava na tropa em Santa Margarida chegava a atravessar o Tejo durante a madrugada.

Confessa que, por vezes, “custa porque é um pouco arriscado, mas o vício já morde” e este será sempre o seu meio de transporte até que consiga remar.

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