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01 JUN 2017
Da dor ao prazer
Por Jornal Abarca

Quanto uma planta nasce, cresce e amadureçe é como uma criança: cresce dos gritos maternos aos risos tolos da adolecência.

Quando os músicos de Margarida na Bélgica em Mechelen tocavam e cantavam "Mea pena" - "A minha dor" em 1500 na corte da duquesa de Borgonha, todos - nobres e gentios, homens, mulheres, infantes - escutavam com devota atenção aquela música que era tanto do agrado da rainha imperatriz.

O mesmo sentimento é visto e sentido nos filmes actualmente, até em cenas de filmes onde se imagina essas cenas serem menos evidentes: como naquele momento em que a "Rainha de todos os condenados" - uma vampira - acorda do seu sono de séculos após escutar a música de violino daquele que viria a tornar-se o seu amante.

O que aconteceu este ano na Eurovisão da canção e depois de ter assistido à analise cinemática da música feita por uma inglesa, assistido ao vídeo de estudantes russas a cantarem a música em português, ver centenas a escutar a música em êxtase, explicar a um romeno a ideia de que esta dor, esta dor que temos de estarmos vivos, de perdermos as pessoas que amamos, de vivermos na esperança de preservar aquele amor impossível é apenas humano. Sentir prazer da dor não é apenas herança europeia, é universal.

No momento que ficarmos apáticos a tudo, à nossa dor ou à dor alheia, nesse momento vamos saber que estamos mortos por dentro.

Nessa noite quando cheguei a casa, não conseguia parar de pensar que este impacto da "Dor" - um sentimento que para nós portugueses é tão tradicional - conseguiu diluir o encerramento da participação de Israel na Eurovisão e as pessoas até esqueceram o lunático que interrompeu o espetáculo da cantora da Ucrânia exibindo o " traseiro" para milhares de pessoas ao vivo.

No ano anterior quando a Ucrânia ganhou o festival pensava que espécie de espetáculo se estaria a tornar a Eurovisão, uma música que falava sobre guerra, violações ganhar? Não reconheci na música a uniformidade da cultura europeia, mas antes uma comum estratégia política.

Como sempre sonhei ver Portugal ganhar a Eurovisão este ano foi diferente: era assim uma espécie de noite, madrugada, sonho verdadeiro e irreal.

Ainda de madrugada acordei, e ainda incrédula senti prazer na dor que foi ver milhares sentirem e repetirem o mesmo vezes e vezes sem fim.

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