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01 AGO 2017
AS BUFAS
Por Jornal Abarca

"No tempo da outra senhora, sempre disse o que me apeteceu e nunca fui perseguido pela PIDE e agora, se disser o que penso, sou perseguido". Já, por diversas vezes, ouvi este argumento com que se pretende demonstrar que hoje existe menos liberdade de expressão do que antes do 25 de Abril. E, de certa forma, o argumento tem fundamento uma vez que Salazar nunca perseguiu aqueles cujas opiniões eram politicamente correctas para o regime.

O que distingue uma ditadura de uma democracia liberal é precisamente o direito de cada um de nós poder expressar ideias e opiniões politicamente incorrectas e que, inclusive, colidem com os valores em que se funda o próprio regime. 

Vem isto a propósito da notícia das duas médicas que querem apresentar queixa contra Gentil Martins pelas suas opiniões politicamente incorrectas. Pelos vistos, a nossa democracia não só continua a fazer uso da mordaça herdada do tempo do fascismo para silenciar os hereges que põem em causa a verdade revelada pela Congregação da Fé como passou agora a contar, por força da igualdade do género, também com as bufas. As bufas, verdade se diga, não diferem em nada dos bufos do antigamente, apenas têm um cheiro mais acentuado pelo facto de vivermos em democracia. E não deixa de ser curioso constatar que, enquanto Adriano Moreira foi ministro no tempo dos bufos, a sua filha é deputada no tempo das bufas.

Pessoalmente detesto bufos e bufas. E, entre uns e outras, sempre prefiro, sem qualquer sombra de dúvida, o peido altivo e sonoro com que Salvador Sobral prometeu brindar a turba e que tanto indignou as redes sociais. Na altura, também me indignei porque não gosto de gente que promete e não cumpre. Mas hoje compreendo perfeitamente por que razão Salvador Sobral se encolheu e, no último momento, decidiu fechar as comportas. É que um país de bufas não vale um peido...

DEIXA ARDER!

Quando olhamos para a cara dos habitantes das aldeias atingidas pelo fogo, das duas uma: ou os habitantes ficaram sem a sua casa ou, muito em breve, vão ser as suas casas que vão ficar sem os seus habitantes.

Por outro lado, quando ouvimos os especialistas, políticos, catedráticos, comentadores e jornalistas debaterem e argumentarem doutamente sobre a floresta portuguesa e a causa dos fogos, não podemos deixar de constatar que todos eles têm três coisas em comum. Podem ser de direita ou de esquerda, transmontanos, alentejanos, beirões ou algarvios mas todos eles residem em Lisboa (primeira característica comum), sabem que a principal causa dos fogos florestais reside no processo de desertificação do território (segunda característica comum) e nenhum deles faz tenção de deixar de residir em Lisboa (terceira característica comum). Aliás, quando chegam aqui, todos se apressam a dizer que o processo de desertificação é irreversível, receosos, porventura, de que alguém os queira obrigar a sair de Lisboa.

É óbvio que o processo de desertificação é irreversível se, ao contrário do que acontece em todos os países da Europa civilizada, todos os ministérios e secretarias de Estado, todas as direcções-gerais, o Supremo Tribunal de Justiça, o Tribunal Constitucional, o Estado-Maior do Exército e da Força Aérea, etc. etc. estiverem sediados no litoral e, ainda por cima, numa única cidade. Agora experimentem, como eu venho defendendo há mais de trinta anos, a recuar todos estes edifícios 100 ou 200 Km para o interior do território, assim como as principais universidades e quarteis militares, e verão se a situação não se altera radicalmente.

Sendo certo que, com a actual rede de estradas e a informática, esta alteração não causaria qualquer transtorno aos cidadãos. Bem pelo contrário, Lisboa ficaria liberta do congestionamento automóvel, da poluição e da pressão urbanística, podendo transformar-se, então, na cidade turística, empresarial, residencial e marítima que o presidente da câmara idealiza, e o país ficava mais equilibrado e mais protegido, designadamente, dos fogos florestais.

A alternativa a esta solução, é deixar arder! Mas, pelo menos, poupem-nos das lágrimas de crocodilo dos senhores de Lisboa que, para além de não ajudarem a apagar os fogos, apenas contribuem para aumentar a revolta de quem aqui vive.

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