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01 DEZ 2017
Velhos, pobres e parolos
Por Jornal Abarca

Vivi alguns anos em África, Guiné e Angola.

Tive oportunidade de verificar nestas regiões a importância que é dada aos velhos.

Em cada povoação são eles os legisladores, os executivos, os fiscalizadores do cumprimento das decisões e ainda são o poder judicial (ou eram, naqueles tempos – agora já deve ter chegado a “civilização”)!

E tudo por considerarem que o conhecimento e a experiência vão-se adquirindo com a vida, de dia para dia. Assim, quanto mais velho mais sábio. Aqui, nos países “mais desenvolvidos”, os velhos são um empecilho para a sociedade: nada fazem, nada produzem, só gastam e muito! Os conhecimentos e a experiência de vida que têm de nada valem perante a “juventude mais bem preparada de todos os tempos”.

Assim, são um enorme encargo para o Estado que tem que lhes pagar a reforma, subsidiar transportes, subsidiar lares e medicamentos, ter serviços de saúde, postos de saúde e hospitais disponíveis para atender as mazelas de que, segundo consta, só os velhos padecem. Com toda esta despesa e sem receitas não é de estranhar que o país seja pobre.

Deste modo acho que se devia prever “uma solução” para esta gente que nada produz e só faz despesa. Já pensaram na poupança que resultaria se for proclamada uma lei que acabe com os velhos! Ficaria, com certeza, um país rico para todos e não, como agora, só para alguns. A continuarmos como estamos nestes tempos, nem é preciso lei – basta deixá-los na aldeia do interior, de preferência com pinhal ou eucaliptal à porta, levá-los a um hospital do estado, onde a falta de verbas é terreno fácil para a proliferação de bactérias mortais, tipo legionela, ou deixá-los no banco do jardim ao sol, ao frio, à chuva (até chegar a pneumonia).

Havia, talvez, a alternativa de os pôr a trabalhar, sim, porque, ao que consta, os mais novos só querem empregos, trabalhar não está no seu horizonte, logo aí os velhos seriam uma mais valia, trabalhando muito ou pouco, cada um de acordo com as suas possibilidades. Receberiam de acordo com o que produzissem, seria uma lei natural – quanto menos produzissem menos comiam, mais depressa deixavam de ser velhos!

Tenho notícia de um país, lá mais para leste, onde cada cidadão tem direito a uma quintinha na aldeia, fornecida pelo estado, para onde são encaminhados os reformados que já devem pertencer à categoria de velhos (nas cidades não há velhos, estão todos na sua quintinha).
Assim, vão produzir bens agrícolas que os vão sustentando e que a família jovem, que vive na cidade, se encarrega de levar, ao fim se semana, para as suas casas. Deixam de ser necessárias grandes superfícies para comprar comida – a terra tratada pelos velhos produz o necessário. Poupa-se dinheiro, come-se melhor, não são necessários químicos para a produção, não há agentes poluidores, a terra volta a ser adubada com os desperdícios biológicos transformados em estrume, volta-se ao burro e à mula ou macho, acaba-se com o automóvel, alumia-se com a candeia do azeite, não há necessidade de esgotos ou abastecimento de água e ainda mais – vive-se no interior, no meio da floresta. Sim, porque vivendo no meio da floresta cuida-se dela, aproveita-se tudo o que produz para satisfazer as necessidades da vida humana e tomam-se providências e previdências para combater, logo no início, qualquer veleidade de chama que ouse destruir o pinhal ou o eucaliptal. Ministro dixit!

Só produtos biológicos, acabam-se as descargas monstruosos de dióxido de carbono e outros agentes poluidores que destroem o nosso ecossistema. Acaba-se a exploração do homem pelo homem (comum de dois), recupera-se o planeta, deixamos de ser pobres, os velhos passam a ser úteis nesta cadeia que rege a nossa vida.

Não cobro direitos de autor a quem aproveitar esta magnífica ideia que me surgiu em sonhos depois de ouvir o Senhor Ministro, constrangido, afirmar que éramos um país de velhos e pobre!

Sonhos de um parolo!

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