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01 ABR 2018
Sem Espinha
Por Jornal Abarca

“Angola e o Brasil têm uma grande necessidade ao nível do ensino básico e do ensino secundário de mão-de-obra qualificada e de professores”. Foi com esta frase que Pedro Passos Coelho, em Dezembro de 2011, incentivou os professores a emigrarem. Mais tarde, com a ajuda da cúpula directiva que o rodeava, tentaram fintar o que havia sido dito mas o mal já estava feito.

Em Portugal, ao longo de décadas, a importância dada ao papel do professor foi-se perdendo. Actualmente é um cargo desprotegido e desconsiderado na sociedade, quer pelas entidades quer pelas famílias. Passos Coelho, nestas declarações, personificou isso. E foi mais longe: “Sabemos que há muitos professores em Portugal que não têm nesta altura ocupação e o sistema não consegue ter oferta para todos. Nos próximos anos haverá muita gente (…), sobretudo professores, que podem olhar para todo o mercado de língua portuguesa e encontrar aí uma alternativa”. Em suma, o Primeiro-Ministro português aconselha os professores que se formaram em Portugal a irem embora porque aqui não há oportunidades para eles.

Seria de esperar que Passos Coelho assumisse, após a saída do PSD, um cargo na administração de uma empresa privada. “Não há almoços grátis” e favor com favor se paga. Mas não: Passos Coelho, num acto revestido de maior falta de seriedade e integridade, vai dar aulas equiparado a professor catedrático no ISCSP, onde apenas quinze nomes têm esse privilégio. É-lhe, assim, estendida a passadeira vermelha para entrar numa universidade pública, na qual foi enxovalhado quando a visitou enquanto líder do país.

É público que o ISCSP é uma universidade que se coloca mais perto da direita política. Desde logo, o auditório principal está baptizado com o nome de Adriano Moreira, antigo ministro do Ultramar de Salazar e fundador do CDS-PP; o corpo docente está recheado de figuras como Sousa Lara, Ângelo Correia ou António Rebelo de Sousa; e os seus alunos com escolhas políticas estão em grande número ligado às juventudes partidárias à direita. Por isso confesso que me deu particular prazer ver abaixo-assinados tanto de estudantes como de professores protestando contra a nomeação de Passos Coelho: uns por não lhe reconhecerem currículo para tal, outros por encontrarem aqui uma provocação por quem tanto atacou a função pública.

Para gente sem espinha, tudo é possível neste país de faz de conta, onde a ética é cada vez mais relegada para segundo plano e os únicos valores que importam são os que têm cifrões. Para esta gente, sem espinha, que nos vai (des)governando, não há missões impossíveis enquanto houver favores a cobrar.

Quando se comemoram 44 anos do 25 de Abril, há muito a repensar. Sobretudo porque falta actualmente o que sobrou aos Capitães de Abril: integridade, coragem, ética e dever cívico. Espinha.

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