(...) O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.(...)
Luís de Camões
Pois não sei... Sou, por norma, alguém que acredita. Acredita que há muito mais mundo para além das tricas e mexericos, do reproduzir acriticamente o que por aí se ouviu dizer e de transformar em normal o que no tempo em que nasci e cresci era tido como social e moralmente reprovável (se bem que esta moral não esteja directamente relacionada com a comunhão de uma qualquer religião).
A pressão social, por vezes castradora e metediça, tem o seu lado positivo. Condenava e exultava comportamentos fazendo a destrinça entre o bem e o mal.
Diziam os velhos da terra (eu nasci na aldeia) que a palavra valia mais do que qualquer assinatura.
Não me considero exemplo para ninguém, mas no fundo de mim reside os ensinamentos adquiridos desde tenra idade. Também não me considero saudosista dos tempos difíceis para muitos, para um povo intoxicado com a norma dos três efes (Família, Fátima e Futebol) em que o patriotismo nacionalista era incutido nos mínimos pormenores. Nas fotografias de Tomaz e Salazar, a ladear o crucifixo ,colocados por cima do quadro de ardósia da minha escola. Ou do mapa de Portugal com as inscrições: “Tudo pela Nação” (em cima) e “Nada contra a Nação (em baixo).
Não é disso que se trata, mas da impunidade que os “senhores do mundo” alardeiam em nome de um bem maior, leia-se bolsos cheios, ou da desumanidade como se separaram e enjaulam progenitores e descendentes. São homens e mulheres. São crianças e velhos... São pessoas em que o coração bate ao mesmo ritmo de qualquer ditador... São pessoas e tal como todos nascem e morrem da mesma maneira... possuem os meus órgãos vitais e as mesmas necessidades de sobrevivência. São simplesmente pessoas, animais bípedes, da ordem dos primatas, pertencentes à espécie Homo Sapiens. Todos, sem excepção se inserem na mesma classificação taxionómica... O poder, a fortuna não possuem classificação cientifica. Todos são primatas, todos pertencem à espécie Homo Sapiens.
Numa réstia de esperança talvez:
(...)Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades. (...)