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01 JUN 2018
A História como arma de fazer política (Parte 2)
Por Jornal Abarca

Tal como Rui Ramos (RR) não esquece de lembrar na I República, mas que parece querer fazer esquecer no constitucionalismo monárquico, em Portugal, no dealbar do século XX, a balbúrdia parlamentar (em que dois partidos, pelo menos desde 1851, se revezavam no poder, o chamado rotativismo), a corrupção, o clientelismo, e todos os vícios que lhes estavam adjacentes eram os pratos do dia do panorama político. Parece querer igualmente esquecer – ou talvez tenha omitido por esquecimento – que o PRP é o espelho da mudança em relação ao tradicional figurino de partido de "notáveis": é um partido de massas com uma teia orgânica extensa e permanente (centros, estruturas, jornais...); é, aliás, um partido assente numa base interclassista. Entre 1900 e 1907 dá-se um exponencial crescimento das estruturas republicanas no território. Segundo Fernando Catroga, «dos 32 clubes e centros existentes em Lisboa, em 1908, 5 haviam sido fundados em 1903, 5 em 1904, 3 em 1905, 2 em 1906 e 17 em 1907 [...]» (CATROGA, 1991: 59). Este é um número que vai crescendo, especialmente de 1908 em diante, existindo em Portugal nas vésperas da revolução 163 clubes, 80 dos quais localizados em Lisboa, local da Revolução de 5 de Outubro de 1910.

No parágrafo 7 RR diz-nos que António Augusto Aguiar era «um dos líderes da esquerda» (cit. RR). António Augusto Aguiar fora deputado pelo Partido Regenerador (a direita liberal), ministro de Fontes Pereira de Melo e Par do Reino. Fora ainda grão-mestre do Oriente Lusitano e faleceu em 1887, ano da constituição da Esquerda Dinástica, dissidência do Partido Regenerador liderada por Barjona de Freitas. Não se percebe muito bem como RR conclui tal ideia. Será que, para o autor, ser maçon significa ser obrigatoriamente de esquerda?

O mesmo nos parágrafos seguintes (8 e 9) fala-nos do Ultimatum britânico, da revolta republicana de 1891 e da bancarrota em tom suave, sem que para isso considerasse este conjunto de situações factores cruciais para a crise social que o Portugal dos fins de oitocentos atravessava. Refere ainda que foi graças às diligências e atenções do rei D. Carlos nos meios militares que, depois da revolta de 31 de Janeiro de 1891, não houve mais nenhuma intentona daquele género. Esquecera-se talvez RR de referir que a sementeira deixada no interior do PRP após 31 de Janeiro: o crescimento da corrente revolucionária reforçada pela lei eleitoral de 1895 que reduzia o sufrágio.

Não explica de igual modo RR por que razão a votação do PRP declinou entre 1895 e 1906. É verdade que a organização do PRP não tem, de facto, um percurso particularmente linear. Isso só se compreende à luz da complexidade dos factores, orientações e contradições que o movimento vai atravessando ao longo de um período de mais de uma década (1883-1895). Se por um lado o tentame colaboracionista com os «barjonáceos», em 1887, divide o partido numa votação acirrada que reflecte a precaridade da estabilidade organizativa, alvitrando dessa forma a necessidade da sua reorganização, por outro, o programa saído do congresso de Janeiro de 1891 é, concomitantemente, a clarificação entre as vias legalista e radical e uma resposta para quem questionava, durante a agitação do Ultimatum, o projecto republicano. (continua...)

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