Home »
01 AGO 2018
A tranquila decepção
Por Jornal Abarca

Estava a apreciar um carpaccio de atum parafinado com gotas de molho picante quando os lusitanos conseguiram ser eliminados do Mundial de futebol. O carpaccio é uma expedita e arguta construção culinária derivada do fastio de uma esquisita e rica aristocrata italiana dada a fastios nos dias quentes e calmosos. Inicialmente o elemento primacial era aveludada carne de vitela, nos dias correntes a técnica é empregue no tratamento de mariscos, peixes, moluscos, até de vegetais, isto porque a imaginação escorada na ideia inicial é vertiginosa, mimética, industriosa e tantas vezes a lustrar o gato vendido como se fosse lebre. Os italianos são grandes criadores, no entanto, adoram parlar bebericando líquidos abre apetite, sejam Martinis, Cinzanos, ou outros aperitivos, daí terem encarado a prematura eliminação da sua «esquadra» de modo negligente, excepção dos tifosos costumeiros. Tomado o aperitivo as suas rápidas refeições acantonam-se nas pizas e pastas, estas criações ascenderam à categoria de pratos globais tal como o carpaccio (noutra escala), e auxiliados por dois americanos inventaram a denominada dieta mediterrânica conquistando sucessivos campeonatos de quota de mercado, sem esquecer os produtos da renomada alta cozinha, o presunto de Parma, as trufas, os queijos, os azeites, e os vinhos são claros exemplos disso mesmo, conferindo aos italianos fama e proveito. E nós? Nós gostamos de falar dos outros, de invejar êxitos, no tocante a produtos, tirando o Mateus Rosé e o vinho do Porto não possuímos nenhuma receita ou prato de cariz planetário, os nossos chefes gastam massa crítica e tempo a adornarem de palavras fantasiosas as receitas, andam em louca correria atrás das estrelas não imitando os espanhóis e italianos na edificação de receituários capaz de rivalizar com estes, além dos grandes fautores de um nacionalismo gastronómico invasor dos cinco continentes, os franceses.

Fomos eliminados, muito bem eliminados considero eu, o Presidente Marcelo ao modo do Papa Francisco (também ele desolado dado o surpreendente afastamento da Argentina) emitiu exortações de conforto, o seleccionador refugiou-se em prudente silêncio, resta-lhe prolongada meditação, não sobre os pecados capitais ou veniais, sim relativamente à acusação de nos momentos cruciais lhe falta o «golpe de asa» e lhe sobrar o tacitismo recuado que lhe permitiu conquistar o Europeu há dois anos.

Os italianos também gostam de polenta, de espumantes, alguns, de menor preço, açucarados, vendidos aos portugueses em quantidades industriais, de grappa, leite de búfala, manjericão, estão a atravessar uma crise mística especialmente na região de Turim, na perspectiva de um português ascender ao estatuto de angélico capaz de levar a velha senhora a ganhar a próxima orelhuda (taça) dos Campeões europeus. Dá pelo nome de Cristiano, por isso um filho é o Cristianinho, diminutivo imposto pelos jornalistas, os criativos transalpinos retiraram-se o Ro de ronha, impuseram o Naldo dos filmes neo-realistas e querem levá-lo ao Coliseu como se fosse um Imperador, nunca como alimento dos leões com ou sem o saudoso Bruno, tanta falta faz nos noticiários.

A estação maluca está calma, o tempo não tem ajudado, as italianas estão a regressar à Tunísia e Turquia, o poeta escreveu – nós por cá todos bem – o prematuro parto (de partir) de o dito melhor do Mundo a refugiar-se nos braços de Georgina retirou luzimento às revistas rosa choque, os comentaristas entretêm-se a sonhar inclemências caso o orçamento seja chumbado, o homem do PAN recebeu justo castigo, que lhe sirva de emenda, percebo, porém desaprovo a abstenção do Deputado Matias na votação do projecto-lei referente às touradas. Os ribatejanos e todos os amigos da festa brava não devem esquecer Matias a imitar Pôncio Pilatos. No Ribatejo voltamos a ter as barragens cheias, na Judeia a água era e é escassa!

A nossa selecção não merecia passar aos oitavos de final. Ou merecia? Façam favor de gastar as tardes solarengas a meditar sobre o ser, ou não ser de Fernando Santos.

(0) Comentários
Escrever um Comentário
Nome (*)

Email (*) (não será divulgado)

Website

Comentário

Verificação
Autorizo que este comentário seja publicado



Comentários

PUB
crónicas remando
PUB
CONSULTAS ONLINE
Interessa-se pela política local?
 73%     Sim
 27%     Não
( 367 respostas )
© 2011 Jornal Abarca , todos os direitos reservados | Mapa do site | Quem Somos | Estatuto Editorial | Editora | Ficha Técnica | Desenvolvimento e Design